domingo, 27 de março de 2011

Um mundo paralelo.



O dia não me tinha corrido lá muito bem e nem me apetecia pensar nele. Nem sei se Gabriel gosta de mim ou não, não quer dizer que eu goste dele. Mas é como eu digo, é um sentimento esquisito.
Tinha tido prova de Clarinete hoje, e não me tinha corrido lá muito bem, acho que vou tirar um e treze ou catorze.
Chegámos a casa e eu fui logo para o quarto. Era praí umas oito da noite e adormeci que nem uma pedra.
“TITITITI TITITITI TITITITI TITITITI TITITITI”
Desliguei a porra do despertador e levantei-me. Fui beber o meu café (claro! O café é a primeira coisa que tenho que fazer logo pela manhã! Eheh) e fui tomar banho.
- Harmonie, tens pastilhas de menta? As minhas já se acabaram!
Harmonie revirou-me os olhos e riu-se.
- Estão no bolso do meu casaco! Vai lá buscar.
Dei uma corrida até ao nosso quarto e procurei pelo casaco dela. Estava em cima da cadeira da escrivaninha.
Procurei pelos milhentos de bolsos que aquele casaco tinha e encontrei as pastilhas. Ao retirá-las deixei cair um papelinho.
“ Mas ela anda bem? Parece que está em baixo!          Descansa, isto passa-lhe Gabriel!”
Senti um fervilhar na barriga, de raiva, ciúmes e nervos. Eles estariam a falar de mim? Será que eles tinham alguma cena os dois?
- Encontraste-as?
Dei um pulo e arrumei á pressa o papelinho todo amarrotado.
- Si… Sim! Já tou a ir!
Ao vestir-me, reparei que Abigail não estava em casa. Pronto… Estava a dormir no telhado! Olhei para o relógio e faltavam vinte minutos para o autocarro passar pela estação.
- Monie, vou chamar a Abby, de certeza que foi dormir no telhado.
- ‘Kay.
Peguei numa panela e numa colher de pau e fui a correr para o telhado.
Deparei-me com uma Abigail e um Rick muito apaixonados, abraçados e dorminhocos.
Bati com a colher de pau na panela, a fazer cariados ritmos ensurdecedores.
-TOCA A ACOOOOORDAAAAR POMBIIIINHOOOOOOS DO AMOOOOR!
Abigail começou logo a resmungar qualquer coisa do género “ Cala-te sua parva!”
Quando ambos repararam que estavam aninhados um no outro, largaram-se logo, um pouco corados.
- Eu não queria estragar este beco do amor, mas tenho que vos avisar que faltam cerca de…- Olhei para o relógio que era do meu avô…- dez minutos para apanhar-mos o autocarro!
- Oh não! Outra vez? Já não tomo um banho em condições á um dia! – Disse Abigail toda exasperada.  
Ri-me e deixei os pombinhos em paz.
Fui arranjar a mochila da escola e o clarinete e fui pôr maquilhagem.
Quando estávamos todos prontos, dirigimo-nos para a estação e apanhamos logo o autocarro.
Abigail ia entretida com Rick, Harmonie com John e eu… Sozinha! A ouvir os meus queridos Queen e a formar harmónicos consoante a música.

A primeira aula que ia-mos era acústica ( BAH! ), e eu tinha que me sentar ao pé de Gabriel, o que não era nada bom! Pois ficava com enjoos devido ao nervosismo!
-… Os trabalhos de casa são…- O stôr de acústica, intitulado de “babão” devido à excessiva baba que ele expelia cá para fora, já nos estava a enxergar de trabalhos de casa até às orelhas quando senti uma batidela suave na minha mão.
Era Gabriel… Oh não!
- Preciso de falar contigo Melodie!
- Okay… Que fiz que agora?
- Deixa a campainha tocar que já digo.
- Sim senhor.

Deixei a aula correr até tocar. Ao ouvir a estridente campainha  que simulava “ HEY PESSOAL TOCA A IR PARA O INTERVALOOO!”, senti um grande aperto no coração  e um .. GRANDE formigueiro no estômago.
Gabriel agarrou-me pelo ombro e puxou-me por ele. Fomos até ao fundo do corredor, onde não estava ninguém.
Estavam lá cadeiras e ele mandou-me sentar numa delas. Ele estava passadinho? Escangalhei-me a rir, estava tão nervosa caraças!
- Não tem piada! – Disse ele arrogante.
- Tem sim! – Ri-me outra vez.
Ele sentou-se numa cadeira à minha frente. Começou a olhar para todos os lados, menos para mim e começou a suspirar.
Estava a preparar-me para me levantar e ir embora quando ele começou a falar de rajada.
- Olha, contaram-me que tu... Hum … Gostavas de mim e que andavas em baixo… E pronto, eu também parece que notei isso…
Calou-se e olhou para mim.
- Sim?
- E era para te dizer para não teres esperanças porque eu gosto de outra rapariga… :/
- Era só isso? Okay. xD!
Levantei-me e fui-me embora.
Bem. Agora já tinha percebido o sentido do papelinho que Harmonie tinha no bolso!
Ao dirigir-me para os cacifos, fui contra Stark.
- Porra! Só me faltavas tu agora!
- Que é que tens Mel?
- Não me chateies! P’lo menos agora! Deixa-me em paz! – Comecei a soluçar cada vez mais e empurrei-o.
Ele agarrou-me a mão e fez com que eu olha-se para a cara dele. Ele estava tão sério, mas tão preocupado ao mesmo tempo que até meteu pena!
- Vamos dar uma volta, não vale dizer não Melodie.
Snifei e fui com ele de arrastão. Fomos até ao jardim e ele sentou-me num dos bancos que havia lá.
- Não penses que te vou contar alguma coisa, porque não vou. – Olhei para o sentido contrário de onde ele estava.
- Não quero que me contes nada Melodie, quero é que estejas bem. Precisas que faça alguma coisa?
Olhei para ele e num impulso abracei-o.
- Sou horrível! Não faço nada de jeito e ninguém gosta de mim!
Comecei a chorar ainda mais e ele apertou-me contra si. Quando percebi que já se estava a aproveitar de mais de mim, larguei-o e fui para a casa de banho mais próxima dali.
Sentei-me no chão de uma das casas de banho e peguei no estojo.
“ Tu prometes-te!” , senti as palavras a ecoarem na minha cabeça.
“ Não faças isso!”…
Afugentei os pensamentos da minha cabeça e abri o estojo. Lá estava ele. O meu querido e amigo xizato.  Peguei nele e puxei a lâmina para fora.
 Respirei fundo e pensei no que estava prestes a fazer. E porquê?
Já estava farta de tudo e tinha saudades de tudo… Dos meus pais… Principalmente deles…
E só de pensar que tinha sido tudo por causa da porcaria de um cortezito de merda na porcaria do meu pulso.
Esqueci-me de tudo e da morte dos meus pais e passei com a lâmina fria no meu pulso.  Senti um frenesim no meu pulso e quando vi, tinha um carreirinho de sangue a escorrer pelo meu pulso. Passou de carreirinho para carreirão de sangue.
Comecei a sentir-me tão mal… Mas levantei-me e tirei papel higiénico, para tapar o corte.
Ao sair da casa de banho, meia tonta, reparei que Stark ainda estava lá. Olhei para ele e sorri. Cambaleei para a frente e passei de ver a cores, para ver tudo branco. Enrosquei-me à pressa nos braços dele.
- Diz à Abby e à Monie que peço imensa desculpa…
E desmaiei . 


                                                             * M

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