terça-feira, 1 de maio de 2012

Reverse

Hoje, a felicidade escorria-me pelo meu ser e com ela, acordar foi bem mais fácil do que alguma vez pensara.
Deixei Rick no telhado e desci até ao apartamento, onde encontrei Cassandra que estava sentada ao balcão, melancólica.
- Por favor, diz-me que não estás assim porque o Noah estragou o encontro.
- Não- responde- o encontro correu imensamente bem!
Sorri de orelha a orelha.
- Uuuuii que isso vai bonito... E já houve....algum kiss? ahahah.
Ela porém não sorriu.
- Não.. E esse é o problema! Não houve porque... Nunca beijei ninguém, Abby!


Eu confortei-a, dizendo que não havia problema.
- Mas descansa porque eu já me sinto preparada para hoje à noite.- disse como se tivesse reanimado.
- A sério? Como?
- Digamos que estive com um treinador experiente. 
De súbito, entra de rompante e exaltadamente Monie que gritava e gesticulava para Johnny:
- Como é que foste capaz? – E quando reparou quem estava na sala, semicerrou os olhos. – Tu! Tu és a culpada de tudo isto, não és? Eu bem via como o olhavas... – gritou para Cassie.
- Amor, Harmonie, eu estava a tentar ajudá-la! Foi uma decisão minha, deixa-a em paz! Impôs-se Johnny, tentando sossega-la.
Monie desfazia-se em lágrimas, Cassie fugiu para o apartamento de Noah, certamente, Johnny estava atrapalhado e eu… admirada.
- Vocês estão de cabeça quente, se calhar é melhor…
- Pára! Como se fosses muito perfeita, Abigail! Não tens moral para interferir nos assuntos dos outros. Andas a esconder o Noah quando ele te magoou durante anos! Cai na real!! Mais tarde ou mais cedo o Rick vai acabar por descobrir a verdade sobre o teu “priminho”. – gritou, interrompendo-me.
Dito isto, sobre as escadas, seguido de Johnny que lhe pedia para falar com ela, ouvindo uma porta a fechar-se de seguida.
As minhas mãos tremiam, suores frios percorriam-me o corpo, quando me lembrei que Melodie devia ter acordado com a gritaria, pelo que me tentei acalmar e subir as escadas. Perdoei-a.
(…)


Após ter deixado o quarto, fui-me deitar no sofá para descansar um pouco daquela manhã. Ou então não! Sentei-me no sofá a pensar em algo produtivo para fazer. Estava farta de não sair e não fazer nada.
Apanhei então, o autocarro até à faculdade e resolvi ir para a biblioteca adicionar as matérias que faltavam de Inglês e Acústica. Por entre prateleiras altas com livros idosos e cheios de pó, encontrei uma mesa longe de toda a multidão e ideal para me concentrar. Passei cerca de 2 hora a escrever os cadernos a limpo e a esquematizar a matéria toda.
Sentia-me feliz, no entanto, não me encontrava realizada. Sentia que tinha algo ainda a fazer, algo que me fazia nervosa. Metida nos meus próprios pensamentos não me apercebi de quem estava à minha frente, pelo que fui ao encontro de alguém.


- Peço desculpa. Estava…
- Distraída? Eu sei – era Gabriel, feliz – Está tudo bem? Vocês não têm vindo à faculdade.
- Pois, ahm… Tem havido problemas lá em casa. O reitor está a par disto, não te preocupes – respondi, hesitante.
- Ainda bem, então. E em que é que a menina Abby estava a pensar? Posso saber? – perguntou numa pressa.
- Na realidade, é um assunto que eu tenho de resolver com o Rick mas tenho medo da sua reacção. – Respondi, tentando procurar uma saída – Como vês, impossível alguém fazer algo por mim. – Sorri- Mas obrigada pela ajuda.
Gabriel sorriu e pôs-me a mão no ombro.
- Aposto que se abordares com calma, ele vai entender e reagir bem. Precisas de alguma coisa das matérias das últimas semanas? – Acrescentou.


Assenti, quase implorando, porque precisava de toda a informação das disciplinas para me preparar para os testes. Depois de ter tirado fotocópia do caderno de Gabriel, dirigi-me até à baixa para comer alguma coisa… ou almoçar!
Londres nunca deixara o seu encanto, apesar do apartamento e das suas paredes terem sido a minha única paisagem, ultimamente.As pessoas continuavam apressadas pelas ruas, pela estrada e a entrar em todas as portas abertas e visíveis. No entanto, o único restaurante de fast-food onde eu conseguia entrar e comer era o “plástico” que vendiam, desde que me mudei para cá. Para além da qualidade da comida, este restaurante atrai-me pela simpatia, não só dos empregados, mas também do gerente que se preocupa com a comodidade e bem-estar dos seus clientes.


“ Já almoçaste ? Estou no 60’s.” – mandei a Rick, quando acabei de chegar.
“Ok. Espera por mim. Estou a chegar  à baixa.” – Respondeu.


Não demorou muito a chegar, pelo que ainda estava a pedir o meu almoço. Trazia um ramo de flores e um sorriso nos lábios.
- Ui, alguém acordou feliz hoje! Desculpa ter saído tão cedo. – pedi, mal me entregou o ramo.
- Não faz mal. Lá em casa é que está um ambiente de cortar à faca. ´
- A quem o dizes! Eu passei a manhã na biblioteca da faculdade a actualizar a matéria. Se quiseres depois empresto-te.
- Não é preciso, só faltei dois dias! Está tudo bem?- a sua cara continuava sorridente e bem-disposta, provocando-me arrepios e uma perda de coragem para lhe contar aquilo que nunca devia ter feito.
- Sim, está…mas há algo que devias saber...- respondi.

Rick ficou sério e preparado para ouvir tudo aquilo que tinha de dizer. As pancadas nervosas na barriga aumentaram e, consequentemente, a minha pulsação também; as minhas mãos tremiam e começava a sentir suores frios, como se Harmonie ainda estivesse a gritar comigo naquela manhã. Respirei fundo.

- O Noah…Ele não é meu primo! Ele é o meu ex-namorado..-pronto, já tinha despejado tudo e, fechando os olhos, preparei-me para uma resposta que me deitasse ao chão num ápice e me fizesse desaparecer deste mundo.

Porém, Rick riu-se e colocou a sua mão em cima da minha.
- Eu suspeitava disso desde que ele chegou… Andavam bastante cúmplices e notava-se que havia história atrás! E pedi informações à Melodie sobre o teu ex-namorado cujo nome ela nunca me quisera revelar…mas tenho uma dúvida, apenas: porque é que o acolheste depois do que ele te fez?- discursou ele, convicto de que fez um brilharete.
  
- Porque, mesmo que ele me tenha magoado muito (e acredita que magoou bastante), não deixa de ter o direito de errar. Ele é humano, somos todos, não é verdade?- sorri- E não nos cabe a nós julgar quem quer que seja, porque nós próprios fazemos asneiras e magoamos pessoas. Por isso, temos de aprender a perdoar e a começar do zero…as vezes que forem necessárias! Perdoas-me?

Rick levanta-se da mesa e ajoelha-se aos meus pés, segurando-me na mão.
 - Abby, eu sempre confiei em ti. E mesmo que me tivesses traído com ele outra vez, eu dava-te a liberdade e o tempo que quisesses para pensar bem sobre quem quererias. Sabes porquê? Porque o amor espera e anseia pela verdade. É assim que eu vejo o nosso, Abigail!- e, levantando-se beijou-me, num beijo interrompido pela empregada de mesa que trazia os nossos almoços, pedindo imensa desculpa por se ter intrometido.

Assim passou o almoço, conversando e rindo de tudo e de nada, até chegar a hora de Rick ir para a aula de instrumento e de eu voltar para casa para organizar as tropas.
Para variar, a casa já estava toda desarrumada -outra vez- e parecia vazia quando entrei.
- Hello?! Está alguém em casa?- gritei, quando pousei as chaves.
Não obtive resposta, pelo que decidi subir e começar a arrumar esta pocilga de casa pelo meu quarto, seguindo-se o resto dos compartimentos. Acabado o meu quarto, segui para o quarto da Harmonie. Quando abri a porta, apercebi-me de que a casa não estava de todo vazia, pois Monie estava a dormir em cima da cama e tinha os olhos inchados. Tentava cobri-la com os lençóis da cama e aconchegar o máximo que podia para ela tentar descansar quando o telemóvel dela tocou. Para não a acordar, atendi.
- Monie, és tu?- perguntava a voz do outro lado.
- Não, daqui é a Abby. Quem fala?- perguntei.
- Daqui é o Adam! Tentei ligar-te mas não atendeste.
- Hey, Adam! Estou a arrumar a casa e deixei o meu telemóvel no meu quarto. Que me querias?
-Queria avisar-vos que estou agora mesmo com o John e a Melodie no hospital. Ela caiu das escadas e está a ser analisada pelos médicos. Queria avisar que o John foi buscar, pelo menos, uma de vós para estar com ela quando acordar porque eu tenho de me ir embora.
A notícia chocou-me, deixando-me a pensar no que teria acontecido depois de eu ter fechado a porta de casa.
- Meu Deus… Eu vou acordar a Monie e vamos ver o que fazer. Obrigada por teres avisado, Adam. - Desliguei o telefone e comecei a acordar a Monie.
Monie estava calma quando acordou, porém, via-se que estava cansada para pensar normalmente.
- Precisas de alguma coisa?- perguntei.
- Sim, preciso de te pedir desculpa por esta manhã… Estava com a cabeça à roda e tu levaste por tabela. Só espero que o Rick não tenha ouvido!
- Não faz mal! Eu já falei com ele, já o devia ter feito há mais tempo…tinhas razão!
- Mas eu não gosto de ser assim… Já me conheces! E o que vamos fazer quanto à Mel?
- Sinceramente, gostava que fosses tu desta vez! Tenho de arrumar esta casa e ainda tenho de passar os apontamentos que o Gabriel me emprestou para os testes da próxima semana. Não te importas?- respondi, segurando na sua mão.
- Nem por isso! Até me ajuda porque preciso de sair destas quatro paredes. Às vezes parecem que nos tiram metade da nossa vida e eu preciso de ver o mundo. Depois empresta-me os apontamentos, sim?- dito isto, conseguiu soltar um pequeno sorriso que mostrava o quão magoada ela realmente estava.

Abracei-a e sorri misericordiosamente perante a Monie ferida e desorientada.
- Ele não fez para te magoar… Ele queria ajudar a Cassie! Ele não gosta dela e ela não gosta dele! A Cassie estava desesperada porque nunca beijou ninguém e ela queria estar preparada para quando o Noah a beijasse, ela soubesse o que fazer. Tenta entendê-lo e, para além disso, tu conheces o Johnny… Achas que ele te trairia?
Harmonie desvia o olhar para a janela e respira fundo, preparando-se para me encarar de novo.
- Eu tenho medo de o perder, tal como tenho medo de vos perder. Eu sei que ele nunca me trairia mas…Olha, não sei o que me deu… Parece que o mundo à minha volta está a endoidecer!
- Não desistas de tudo aquilo que lutaste até agora, por favor! Vais ver que é só uma fase.- Disse, abraçando-a com muita força.

Depois de Monie se arranjar para ir com o Johnny até ao hospital e resolver a sua vida, continuei a endireitar a pocilga do nosso apartamento. Quando acabei eram 7 horas da tarde e ninguém tinha dado sinal sobre Melodie e Rick tinha ido trabalhar. Ao passar os apontamentos que fotocopiei do caderno de Gabriel, notei que a sua letra esquisita me era familiar e, de súbito, surgiu uma luzinha no meu cérebro. Fui buscar um daqueles bilhetes anónimos que recebera e comparei a caligrafia.

- Não acredito nisto!- gritei- Encontrei-te, besta!

Liguei a Monie para lhe contar a minha descoberta.
- Nem imaginas, Monie, o que descobri!!
- Queres contar tu primeiro a tua descoberta ou queres a minha novidade?- perguntou ela, severa.
- Deixa-me ser eu! Já sei quem andou a escrever os bilhetes anónimos. Foi o Gabriel, a caligrafia dos bilhetes coincidem com a dos apontamentos! É ele, só pode!- respondi.
- Boa!! Enquanto te estiveste a armar em C.S.I., a Mel perdeu o bebé! Ela está a perder muito sangue e tem de ficar internada mais 3 ou 4 dias no mínimo.


Londres, 12 de Outubro de 2010 

*A

Sem comentários:

Enviar um comentário