quarta-feira, 14 de novembro de 2012

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-Que cheiro!! E o que é aquilo ali debaixo?! - Comentava Cassie - esqueçam. Prefiro nem sequer saber.
Noah soltou um riso nervoso. De onde eu estava via-o a agarrar o bastão com tanta força que já suava.
- Quanto tempo é que ela demora? - perguntou Abby- Não gosto de estarmos a fazer isto.
- Ele tem poucas probabilidades de ganhar o que quer que seja. Somos muitos e tempos muitos argumentos. Acalma-te.
Não demorou muito até Melodie aparecer, ofegante de ter corrido, abraçando-se a Cassie. Depois chega Stark que, ao ver Noah e Cassie, se mostrou preocupado.
- Mel, o que aconteceu? Vi-te a correr como se fugisses de algum monstro.- disse, aproximando-se devagar.
Noah, porém, colocou-se à frente dele e empurrou-o com o bastão.
- O único monstro que aqui vejo és tu! Vai-te embora e nunca mais te aproximes delas.
Stark levantou as mãos e manteve-se preocupado.
- 'Tás parvo?! Eu quero saber o que se passa com a minha namorada.- depois, olhando para Cassie- Por favor, eu amo-a.
Cassie mantinha Melodie no seu abraço, abanando a cabeça em tom de desagrado.
- Metes-me nojo, mas tanto nojo, Stark!- respondeu com voz enfraquecida pelo medo- De quantas raparigas já te aproveitaste para chegares até aqui? Ias matá-la ou espancá-la até ficar em coma?
Stark baixou os braço e sorriu.
-Nunca magoaria ninguém! A Abby foi um erro do meu cérebro, não do coração. O que tenho de fazer para ser perdoado?
Mel largou-se do abraço da prima e, olhando para Stark em silêncio, respondeu:
- Tu aproveitaste-te de mim, Stark! Traíste-me e ao Rick, alguém que via em ti um grande amigo. Pois bem, vai ter com a Abby! Provavelmente, ela estará disposta a amar-te da maneira que quiseres.- e, fazendo uma pausa para limpar as lágrimas que lhe escorriam pela cara, prosseguiu- Aliás, duvido muito que a tenhas! O Rick pensa muito, provavelmente mais do que eu, antes de agir e sabe-se lá se já não escolheu voltar para Abby. Tu, Stark, vais acabar sozinho e sem qualquer pedaço daquilo que sonhaste. O Noah fez bem em investigar sobre ti depois de terem feito porcaria. Desaparece, aberração!
Stark rangia os dentes ao ouvir tal discurso e os seus punhos estava cerrados com raiva. Porém, manteve a calma e respondeu sorrindo.
- Quem te contou isto, Noah?- perguntou, sarcasticamente- Deixa-me adivinhar..
- Ora tu sabes bem que foi ela! Conheço a Abby há mais tempo do que alguém que esteja aqui. Ela bem tentou esconder tudo, mas não demorou muito até ela se desfazer em lágrimas e despejar tudo! Planeaste isto tudo ao mais ínfimo pormenor, Stark, mas esqueceste-te que o melhor amigo dela estava na cozinha a ouvir tudo! Tudo o que disseste esta manhã meteu-me tanta raiva que é melhor desapareceres da minha vista.. Só me apetece partir-te a cara!- respondeu Noah, raivoso.

Dito isto, olhei para Abby. Estava branca como cal e com os olhos inchados de tanto chorar. Stark transformou-a num verme e arrependo-me por não ter notado as suas intenções, por mais esperta que fosse. Que monstro!
Stark não arredava pé.
- A Abby?! Meu, eu nunca bateria em raparigas!- depois virou-se para Melodie, mostrando desespero- Mel, já alguma vez te bati? Já alguma vez me viste bater em alguém? Ela está a mentir! Até aposto que fez aquilo a ela própria..- e baixando os braços derrotados, suspirou- Querem que me vá embora? Eu vou..

No entanto, quando este virara as costas, Melodie foi ao seu encontro e pôs a mão no seu ombro.
- Espera, Stark! Desculpa. Tu tinhas razão, eu devia ter sabido que ela estava por detrás disto tudo!- declarou, olhando para o chão, submissa- Sei que nunca me trairias.
Depois, virando-se para a prima e para Noah que mostravam desagrado perante tal discurso, riu-se.
- Pessoal, ela intrometeu-se nas vossas vidas, lembram-se? Ela esteve sempre contigo, Noah, mesmo quando disseste que gostavas da Cassie. E, prima, ela sempre te deu conselhos sobre ele, não foi? Houve algum momento entre vocês que ela não soubesse?- questionou, pousando as mãos nos ombros de Cassie- Aquilo que o Noah ouviu, provavelmente, pode ser mal interpretado se não se souber o contexto. Ela só pode ter estado à procura de uma oportunidade para explicar a traição. Vocês viram os ferimentos dela?

Noah e Cassie estavam perplexos e sem fala. Até que, passado algum tempo, Noah responde:
- Bem, eu só vi que ela tinha a cara inchada.
- Pois. E eu vi que ela estava com dificuldades em respirar bem. Quer dizer, ela disse-me que lhe doía o peito quando respirava!- acrescentou Cassie.
Melodie suspirou.
- Noah, já devias saber que ela ficar sempre com a cara assim quando adormece no sofá.
Ao meu lado, Abby respirava com força para conter as lágrimas desesperadas. Não me podia conter mais. Abby não é a má da fita.
- Abby, tu e eu sabemos que o que eles dizem é mentira! Por favor, vem comigo enfrentá-los. Podes mostrar que não foste tu que te magoaste!- declarei.
Abby abanou a cabeça.
- Ele pode espancar-me até à morte!
 Agarrei na cara dela, forçando-a a olhar para mim.
- Eu estou aqui contigo e acredito em ti! Se ele te espancar, tem de passar por cima de mim primeiro..e do resto também! Agora, levanta-te e vem comigo.
Abby acenou, respirou fundo e encaminhou-se para eles com a minha ajuda.
- Eh, aberração! Lembras-te de mim? Obrigada por teres espalhado veneno contra mim! Agora posso mostrar-lhes o quão mentiroso és tu!- gritou ela.
Melodie olhou para mim incrédula e aproximou-se.
- A aberração aqui és tu! Estavas escondida para quê? A culpa é toda tua.
De súbito, Rick apareceu e confuso gritou:
- Mas o que é que se passa aqui? Porque raio é que estão a chamar a minha namorada de aberração?
Depois correu para mim e olhou-me de alto a baixo, incrédulo.
- Abby.. o que te aconteceu?
Abby mantinha o seu olhar assente em Stark, como se lutasse com a mente dele, alheia a tudo à sua volta.
- Rick, a Abby foi espancada por Stark.- declarei e, de seguida, olhei para Mel- E é com todas as minhas convicções que afirmo que ela não está a mentir a nenhum de vocês.
Stark mostrava a sua raiva através do olhar que mandava a Abby e Rick estava atónito. Melodie não ficou abalada.
- Monie, eu não acredito que também caíste! Se estás tão convicta, prova-o!
- Wow, esperem aí!- gritou, Rick- Estão-me a dizer que aquele filho da mãe bateu na minha namorada? Abby, porque é que não me disseste?
Abby olhou-o nos olhos.
- Tu estavas irritado comigo por te ter traído! Era a última coisa que te tinha de contar, a meu ver.. Ias dizer, como a Melodie, que eu estava a mentir..
Rick bufava e mandava um olhar mortiço a Stark.
- É melhor fugires!
Porém, Noah pôs-se à frente.
- Ninguém vai fazer nada até a Monie nos explicar o que aconteceu ao corpo da Abby! Perceberam?
Sorri levemente e pedi a Cassie para retirar as ligaduras de Abby.
- Obrigada, Noah! Bem..- prossegui, com calma- Quando a Cassie retirar as ligaduras, poderão ver a gravidade a situação. Até lá, posso dizer-vos que o joelho dela precisa de ser visto por um médico porque pode estar prestes a transformar-se em pedaços e, se realmente estiver, ela pode deixar de ter mobilidade na perna. A sua cara está inchada, não porque ela adormeceu no sofá, mas porque levou uma estalada bastante forte.
Stark riu-se.
- Prova lá isso, então!- repenicou.
- Bem, estão a ver aquela mancha roxa um pouco abaixo do olho?- perguntei, apontando para a cara de Abby- Pois bem, aquilo é sangue pisado, ou seja, uma nódoa negra!
Ao meu lado, Cassie suspirava depois de ter finalmente tirado a última ligadura.
- Finalmente! Esta ligaduras estavam tão perfeitas que foi difícil de tirar.- resmungava ela.
Sorri.
- Obrigada, Cassie! Agora, deixem-me mostrar os ferimentos nas costelas.- comecei, tocando ao de leve na pele depois de ouvir Abby a gemer de dor- Reparem nestas marcas. Isto não é possível de ser auto-infligido! A não ser que ela se tenha colocado numa posição bastante desconfortável.
Melodie abanou a cabeça confusa.
- Não pode ser! O Stark não faz mal a uma mosca!
Cassie, pousou os braços nos ombros de Mel e olhou-a nos olhos.
- Mel, foi ele. Ele é que te traíu...
De súbito, Stark fugiu para a estrada principal, seguido por Noah e Rick irritado.
- Eh, volta aqui! Stark!- gritou, Melodie que se tinha ajoelhado a chorar- Eu não sou nada sem ti.
*M

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Are you who you wanna be?

"Don't close your eyes, this is your life.."

- E agora?
A minha cabeça doía-me e não parava de dar voltas pelo quarto.
- Deixa-me pensar, Stark..
Irritado com a falta de resposta e com as voltas que dava ao quarto, Stark agarrou-me e puxou-me pelo braço.
- A culpa é toda tua! Por tua causa, a minha relação com a Mel acabou!

- Larga-me! Estás a magoar-me!- gritei, tentando largar-me dele.- E que eu saiba, o sexo é uma atividade em que precisas de mais alguém! A culpa não é só minha. Agora, larga-me!
Stark empurra-me com força contra a parede e aperta-me o pescoço levemente, rindo-se doentiamente perto de mim.
- Lembras-te das cartas anónimas que recebias?- sussurrou ao meu ouvido- Diz lá que eu não tenho imaginação bastante impressionante! Todo este tempo andei há procura de alguém como tu. A Melodie era apenas um disfarce para me aproximar de ti porque é um alvo bastante fácil. Agora que está tudo acabado, falta muito pouco para te ter só para mim.
Soltei um riso provocador.
- Só podes estar drogado! O que andaste a tomar antes de vir para aqui?- perguntei, afastando a sua mão do meu pescoço e cuspindo-lhe a cara- Desaparece, aberração!
O olhar de Stark escureceu e, de repente, esbofeteou-me com tanta força que me fez cair. A minha cabeça latejava e mal conseguia abrir os olhos com a dor.
- Tu não sabes com quem te meteste, estás a ouvir?- declarou, limpando a cara com a manga do casaco e pontapeando as minhas costas e a zona lombar- Tu és minha, Abby! Estás encurralada, perdida e sozinha. Ninguém vai ajudar uma galdéria como tu.
Pontapeou-me até se cansar, deixando-me de rastos, quase sem fôlego no chão e batendo a porta com força ao sair. Humilhada e dorida, não me dei ao trabalho de sair do chão durante o resto da noite, deixando-me chorar um erro grave que tinha sido planeado por quem achava ser o mais santo de todos.


6 da manhã. Como é possível não conseguir dormir mais num sábado? 
Tentei levantar-me do chão mas, esquecendo-me da pancada que tinha levado, voltei-me a deitar para me recompor das dores. Quando finalmente me pus de pé, fui até à casa de banho ver as mazelas que aquele animal me tinha deixado.
A cara ainda estava vermelha e se, porventura, tocasse nela, a minha cabeça começava a doer como se Stark estivesse a bater-me outra vez. As costas e a zona lombar estavam negras da força que ele tanto exerceu. O ego, esse, estava rendido ao destino previsível que se seguiria. Condenada.
Devagar, fui para a cozinha procurar algo para as dores e fazer chá de camomila. De seguida, dirigi-me para o parapeito da janela que dava acesso às escadas de emergência e pus-me a observar o prédio onde Rick mora. Por favor, não desistas de mim, pensei. Pensei também em como fui capaz de destruir o mundo de Melodie e como estaria prestes a derrubar o meu.

-Bom dia, Abby!- cantarolava Cassie, enquanto descia das escadas- Estás melhor?
Pousei a mão no lado da cara que estava magoado (e maldita a hora em que pousei tão rápido) para o esconder.
- Ferida, só. E tu?- respondi.
- Estou muito bem. Espero que não se importem, mas o Noah vem cá tomar o pequeno-almoço.
Sorri. Ao menos tenho a certeza de que estes, quando se juntam num sítio, é muito difícil tirá-los de lá.
- Fixe. O médico disse que não podia estar muito tempo sozinha, vá se lá saber porquê.- comentei ironicamente.
Cassie riu-se e voltou para cima arranjar-se. Eu fui sentar-me no sofá para ver TV (nada melhor do que o "Family Guy" para curar feridas) e tentei prestar atenção às parvoíces do Peter, mas era impossível. Precisava de falar, de contar a alguém sobre o que o Stark me andava a fazer.
A campainha. Paralizei. Podia ser Stark e encará-lo seria impossível no estado em que estava.
- Abby, podes abrir a porta? Ainda me estou a vestir!- gritou Cassie do cimo das escadas.
Respirei fundo e encaminhei-me para porta.
-Bom dia, Abby! Estavas a dormir no sofá?- cumprimentou o sorridente Noah, felizmente- É que tens a cara vermelha do lado esquerdo.
- Olá, entra. Sim..estive a..dormir.- respondi ao sorriso, desiludida por me ter esquecido da cara.
- A Cassie avisou-vos que vinha cá tomar o pequeno-almoço?- perguntou, pousando os copos de café na mesa da sala.
- Óbvio, não fala de outra coisa desde que acordou.- respondi calmamente- Nota-se muito que estive a..dormir no sofá?
Noah riu-se.
- Bastante, mas já é hábito teu.- e olhando para as escadas- Cá está a minha princesa! Bom dia, Cassie!
Acabada de descer as escadas, Cassie sorri e corre para os seus braços. Tão romanticamente nojento.
- Fico feliz por alguém estar bem disposto às 7h da manhã de Sábado! Vou voltar para o sofá.- comentei.

A campainha tocou outra vez e eu congelei mais uma vez. Já tinha mudado de sítio, voltado para o parapeito da janela e optei por não atender a porta. Tinha um mau pressentimento.
- Que se passa, Abby? Hoje não ouves a porta?- resmungava Cassie, saída da cozinha para abrir a porta.
Assim que a abriu soltou um suspiro.
- Ah Stark! Que fazes aqui?
- Bom dia, Cassie. Preciso de falar com a tua prima. Posso entrar?- perguntou ele educadamente.
Cassie soltou outro suspiro.
- Sabes bem que ela não te quer ver. Meu, tens de seguir em frente.
- Cassie, por favor, eu amo-a de verdade. Se ela ainda está a dormir, importas-te que espere até que ela acorde?- insistiu Stark.
- Como queiras, Stark.- respondeu, Cassie- Mas estás a perder o teu tempo.
Cassie fecha a porta, depois de ele entrar, e segue para a cozinha onde Noah a esperava e deixando-me sozinha com Stak na sala. Permaneci na janela, evitando qualquer contacto visual com aquele animal.
- Então que lhe disseste? Adormeceste no chão ou bateste com a cabeça na porta?- provocou ele, rindo-se friamente- Não, espera... Caíste da cama!
Eu ignorava qualquer tipo de boca que ele lançava. Porém, Stark aproximava-se cada vez mais até que o senti atrás de mim, massajando-me as costas.
- Abby, querida, porquê fingir que não sentes o mesmo?- insistiu, enquanto passava as suas mãos das minhas costas para o meu cabelo- Aliás, se não te sentisses assim, nunca teria havido uma segunda vez, certo?
Continuei sem abrir a boca e permaneci gélida, concentrando o meu olhar no apartamento de Rick e reparando que o meu coração batia a mil. No entanto, Stark não desistia e deixou de me acariciar o cabelo para mo puxar.
- Sabes bem que sou capaz de te desfazer em pedaços, Abby! Não me conheces, estás a ouvir?- disse, beijando a minha face- Tens notícias do Rick? Ouvi dizer que tinha voltado para casa dos pais.
E não obtendo qualquer resposta da minha parte:
- Bem me parecia que estavas às escuras nesse assunto. Se te portares bem, talvez o consigas ver mesmo antes de eu lhe enfiar um saco de plástico na cabeça. Aposto que sua cara de desespero é bastante engraçada. Pena, gostava dele.
Finalmente, esgotada de lutar comigo mesma, virei-me e olhei-o nos olhos. Não me surpreendi quando vi a sua alma vazia neles refletida.
- Tu, Stark, és um erro! Tudo o que aconteceu não passou disso.
Stark enervou-se e agarrou-me no queixo.
- Não me tentes, miuda! Tu és minha!- disse, afastando-se e ocupando o sofá.

Momentos depois, apareciam Cassie e Noah, felizes e contentes, e sentaram-se no sofá ao pé de Stark, que continuava a olhar na minha direção
- Estava a apreciar o tempo. Nunca vi tanta chuva na minha vida. Londres, não é verdade?- comentou ele, ignorando todas as ameaças que me fez.
Cassie encolheu os ombros e Noah que sorri perante tal comentário fútil. Não lhe dirigiram palavra nenhuma.
Ouvi passadas vindas de trás de mim, alguém descia as escadas e, pelo olhar de Stark era a cereja no topo do bolo. Encaminhou-se para ela, mas ela desviou-se e saiu de casa, ignorando-o. Este seguiu-a. 
Mal ele saiu, respirei fundo. Noah e Cassie, chegaram-se para mim:
- Nós ouvimos a vossa conversa...Quer dizer, a dele.- disse Noah- Vou ligar ao Rick.
Dito isto, o meu coração começou a acelerar outra vez e as lágrimas corriam pelos meus olhos como se de um rio se tratasse.
- Temos de o parar.-avisou Cassie- Anda, vem comigo acordar a Monie.


* A







terça-feira, 9 de outubro de 2012

Empty Spaces, what are we living for?

Monie veio de imediato ter connosco, para ver o que se passava. Ao deparar-se com tal situação, parou imediatamente atrás de mim, ouvindo-se um ofegar repentino.
Não conseguia dizer nada, Abby estava a centímetros de perder a sua vida para sempre, e tudo o que eu conseguia fazer era chorar compulsivamente por ódio e tristeza.
Harmonie, pegou sorrateiramente no telemóvel e ligou para o 112, também a chorar, lá tentou chamar ajuda. 
Ajoelhou-se também e abraçou-me, agarrei-a com tanta força que de certeza que ela ia ficar com negras.
- Por favor, protege-a. - disse-me. A minha garganta estava com um nó tão gigante que mal conseguia respirar.
Abigail chorava e balançava o corpo para a frente, murmurado "eu não sirvo para nada, eu não sirvo para nada".
No meio de tanta emoção ouviu-se lá ao fundo o som de ambulâncias. 
Finalmente.
Em menos de dez minutos, Abigail já estava cercada de bombeiros e enfermeiros, encaminhando-a para a ambulância.
Harmonie continuava abraçada a mim, junto ao banco do telhado, como poderia estar a acontecer aquilo? Como é que chegamos a este ponto?
Um senhor de meia idade, enfermeiro, avistou-nos e veio ter connosco.
- Meninas, estão bem? A vossa amiga não está muito bem e vamos levá-la para o hospital. Vocês estão mal também, talvez o melhor é irem também.
Mais hospitais não, por favor.
- Monie, eu fico.
- Ok... Eu acompanho-o, até porque depois a Abby precisa de ajuda de volta a casa. Eu estou bem, vai para a cama e descansa, assim  que tudo estiver resolvido, nós voltamos.
Levantei-medo sofá e, melancolicamente, segui para as escadas que davam acesso ao apartamento.
O ambiente estava de cortar a respiração, ouvia-se choros miudinhos e suspiros pelos cantos da casa. Via-se uma Cassie e um Noah aterrados com o que tinha acontecido e o Johnny muito preocupado.
Fiz-me de forte e forcei para não me saírem lágrimas enquanto falava:
- Por hoje já acabou a telenovela meninos, por isso recomponham-se e voltem às vossas vidas que eu volto à minha.
Dirigi-me num passo mais apressado até ao meu quarto, e só depois de ouvir o trinco de todas as portas fecharem, é que o mundo desabou.













Acordei com a cara toda molhada, e com a cama repleta de lenços de papel ranhosos.
"Mas para que é que acordei?"
É sempre bom ter disposição para enfrentar um novo dia.
Levantei-me, sonolenta, e abri a porta do quarto. Parei por uns segundos e reparei na bizarra que alguma vez tinha acontecido naquela casa.
Estava tudo silencioso.
Dirigi-me para a cozinha, talvez hoje os meus dotes culinários não estivessem bizarros, como a casa, e conseguisse cozinhar algo decente.
Ao passar pela sala, reparei que o silencio não se devia ao facto de não estar ninguém em casa, por estavam todos enfiados na sala, mudos e paralíticos, pobres coitados.
Harmonie e Johnny, abraçados e acariciando-se um ao outro para compensar a falta de amor que havia nesta casa, Cassie e Noah, discretamente de mão dada a ver Spongebob na TV muda , Abigail no parapeito da janela a olhar no vazio e Stark, que olhou logo para mim.
NÃO!
Corri de imediato para o quarto, mas antes que me conseguisse trancar lá dentro, Stark já estava a empurrar a porta, implorando que eu a abrisse.
- Por favor, vamos conversar! Mel, por favor!
A voz dele, a voz dele criava-me um nó na garganta tão grande que só me apetecia partir tudo o que houvesse de vidro naquela casa, e mandar tudo contra ele.
Levei-o à ignorância, conseguindo trancar a porta e não lhe respondendo.
Talvez Abigail estivesse correcta, porque raio andava eu a portar-me assim? Sempre na galderice, e sem estudo nenhum no clarinete. No que é que me tinha transformado? Eu que era daquele grupo de alunos em que se concentrava nos estudos para obter boas notas. Eu que andava sempre a competir para tirar melhores notas que Monie. Agora nem sequer ia às aulas, nem sequer sabia onde havia deixado o meu clarinete.
- Isto não pode continuar assim.
Destranquei a porta, Stark sorriu, pensando que me havia conquistado de novo, mas percebeu logo que não quando o olhei nos olhos.
- Entra e senta-te, enquanto eu vou chamar a Abigail e vamos conversar os três.
Stark fez de cão mandando e fui logo buscá-la. Ela não foi capaz de olhar para mim, e Stark pouco também.
- Já que agora têm tanta vergonha de falar agora e de exprimirem os vossos sentimentos, falo eu. Pelos vistos, a única que têm o juízo assente é a Harmonie, que está a conseguir prosseguir um sonho que era partilhado por nós as três, Abigail. E acredito que ela irá ser uma música profissional talentosa, com o empenho e dedicação que ela faz por ter. E ao mesmo tempo, ela consegue coordenar toda esta casa, e ainda consegue tomar conta de nós. Eu sei que estes últimos tempos tenho andado muito perdida, mas talvez porque uma das minhas melhores amigas não me conseguia apoiar porque estava também desamparada. Pois, porque tu também não andas bem desde o início do ano letivo, quer dizer, tu já não andas bem desde que te tornaste uma adolescente típica do século vinte e um, mimada e com a mania que és rebelde. Ontem disseste-me que eu também estava assim, se calhar fiz mal em seguir os teus exemplos, Abigail. Mas agora estou sobre aviso, para a próxima não vou voltar a repetir.
Abigail estava estática, e a única coisa que lhe movia na face eram as lágrimas a escorrerem-lhe pelos olhos.
- Agora tu, Stark. - este estremeceu, sabendo que iria ser ainda mais fria com ele. - Eu sei que me portei muito mal contigo, nunca te devia ter traído com o Adam. Mas acho que a coisa mais imbecil que se pode fazer é pagar na mesma moeda! E para que saibas, se hoje eu não tivesse caído das escadas a baixo, traria no ventre um filho que era obra minha e tua, pois foi contigo que perdi a minha virgindade e era contigo que tencionava ter um grande futuro e feliz. Mas como namorado, a tua obrigação desde o início da minha turbulência  era apoiares-me e abrires-me os olhos, para que eu pudesse seguir em frente como uma pessoa civilizada! Pois, porque com isto tudo nos parecemos uma cambada de macacos, que a única coisa que nos falta é saber pensar! E acho que o que tu fizeste, foi tudo menos pensar em mim e em nós, porque em ti pensaste, e bastante, para seres tão invejoso como és e traíres-me com a minha melhor amiga! Bem, prefiro não continuar se não estávamos aqui o dia todo. Aqui encerro a conversa e a nossa relação, Stark. Abigail, já sabes que desceste muito na minha consideração, e muito dificilmente vais recuperá-la.
Levantei-me da cadeira onde estava sentada e dirigi-me para a sala.
- Boa tarde a todos, peço imensa desculpa pelo horror que se sucedeu ontem.
Ficaram todos pasmados a olhar para mim, e, com a pouca paciência que tinha, virei costas e fui para o quarto de Monie que tinha tudo aquilo que eu precisava...por agora.
Sentei-me na secretária e peguei num caderno.

           

            "Planos: Mudar de casa.
                             Ir à escola.
                             Ser feliz.      "             






Depois, calmamente, levantei-me e fui buscar a mala de viagem que estava por cima do guarda-roupa.
Quanto mais cedo, melhor.




                                                                                                                                                                *M

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Secrets

Mais uma vez o almoço era peixe queimado com batatas cruas... Que hospital de qualidade, sim senhor!
Deixei metade do almoço no prato, e às escondidas comi as Pringles que Abby trouxera antes de eu acordar. 
Por falar em Abby... Desde que acordei, não pôs cá os pés só para me dar um "olá"... O que será feito dela? 
- Hey Monie, que se passa com a Abigail? 
Harmonie, que estava sentada no banco de visitas do quarto, encolheu os ombros e continuou a olhar especada para a televisão, enquanto comia um gelado de baunilha. 
Hum, algo se passava, Abigail seria a primeira pessoa a estar comigo, e para a Harmonie não saber, ou não mostrar que sabe, é porque algo estranho se passava.
Escondi o pacote já vazio das Pringles debaixo da almofada ( belo esconderijo, hein? ) e peguei no meu telemóvel, que estava sob a mesinha de cabeceira do quarto de hospital.
 #Hey, só para que saibas, já acordei...
                                Destinatário :  Abby<3<3<3
 
Sinceramente não contava com resposta, se algo se passava, ela não me contava por mensagem...
O telemóvel vibrou minutos depois de ter enviado a mensagem, peguei logo nele.

    Tem uma mensagem nova : Richard
Ah, ela estava sem dinheiro no telemóvel, de certeza.


 # Hey Mel, é o Ricky, ou Richard como lhe queiras chamar, estás melhor miúda? Sinto a tua falta. Beijo.

Ok! Algo não estava certo!, pensei.
- Harmonie, passou-se alguma coisa enquanto eu estava em coma? Assim algo de muito perturbador?
Ela olhou para mim, e com uma cara muito sincera respondeu que não, pelo menos que ela soubesse. Mas, como já a conheço, ela não estava a mentir. Decidi responder a Ricky:

 # Olá Richard, espero não voltar a receber uma mensagem dessas, sabes que namoro com o Stark e que gosto muito dele, e tu namoras com a minha melhor amiga Abigail. Não tens vergonha!?

Rick não respondeu à minha mensagem e eu apaguei logo a que ele me tinha enviado, não queria mais problemas (mesmo já havendo tantos..). Não é que me tenha esquecido repentinamente do bebé... Mesmo não falando nele... Não "pensando" nele... É uma forma de não me ir abaixo. Não é que eu não pense nele.. Na verdade, é ele que me vem sempre à mente...
O que seria se eu o tivesse tido?
As lágrimas voltaram a aparecer, era difícil escondê-las...
Monie percebeu que eu estava a chorar e veio para perto de mim. Sentou-se à minha beira e deu-me a mão.
-Querida, por favor, tu tens que ser forte! Pensa no que o psicólogo te disse há pouco, pensares nele só te vai fazer ficar pior! Pensa em tudo que tens de bom! Pensa no Stark, o quanto ele te ama e o quanto tu gostas dele! Pensa em mim, e na Abby, as duas pessoas que mais te amam no mundo! Pensa no clarinete... Mesmo que ele agora tenha andado um pouco parado, eu sei que daqui a umas semanas já vais estar a tocar maravilhosamente bem, como dantes!

Monie tinha razão, mas ela não sabe a dor que é perder alguém que é nosso, e que nós nem chegámos a conhecer... Dói...

- Tens razão Monie, eu hei-de ultrapassar isto. - disse para acalmar Harmonie.

"Truz truz"
A porta abre-se rapidamente, era mais uma vez o Dr. Ben.

- Melodie, em principio amanhã tens alta, não é uma óptima noticia?

FINALMEEEENTEEEEEEEEEE!

- Claro que sim, Ben! Estava a ver que não saía desta ... Deste hospital!- respondi com um sorriso gigante.

- Vá, eu sei que ele não é dos melhores hospitais do mundo, mas tens que dar um desconto, ok?! - este Dr. Ben já me conhecia bem.

Esperava uma chegada a casa mais animada, com cartazes a dizer " BEM-VINDA, MELODIE!!", com comida, muiiiita comida em cima da mesa e com boa música a tocar.
Mas, em vez disso, entrei num clima mórbido, onde cada um estava em cada canto da casa, e nenhum sem se falar.
Abigail estava toda aninhada, sentada numa ponta do sofá, nem sequer olhou para mim, no instante em que cheguei a casa. Cassie e Noah estavam sentados na outra ponta do sofá, todos abraçadinhos (parece-me que as coisas evoluíram para eles). Olharam para mim, tentaram sorrir e depois voltaram a olhar em direcção à janela.
- Olá a todos, só para que saibam, cheguei agora do hospital após ter estado duas semanas em coma, e um em repouso, e por acaso nenhum de vocês, com excepção da Harmonie, me foi visitar nestes últimos dias.
Abigail continuou sem olhar para mim, como se não me conseguisse ouvir, como se não quisesse que eu estivesse ali.
Suspirou, levantou-se a foi para o telhado.
Monie sussurou-me "vou ver o que se passa", e seguiu-a.
Já que a casa estava tão acolhedora e animada, decidi enfiar-me na casa de banho e tomar um grande banho de espuma, para poder revitalizar as ideias e esquecer tudo.

Quando desci, Cassie e Noah tinham saído, Monia estava a fazer o jantar e Abby estava sentada nas escadas de emergência.
- É seguro falar com ela?- perguntei a Monie, apontando para Abby.
Monie abanou a cabeça.
- Dá-lhe espaço..- respondeu, enquanto fritava os bifes- Quem a conhece como nós reconhece que ela sente-se culpada com alguma coisa. Se calhar, vergonha também.
- E medo.. 
Monie suspirou.
- O Rick discutiu com ela. Combinaram um passeio à noite depois de ela ir visitar o Stark e ela não apareceu. Foi dormir para o telhado!- dito isto, desligou o lume do fogão- Penso que acabaram..Arroz ou puré de batata?
Assenti e encaminhei-me para ela.
- Puré...mas decente!

Quando me sentei, Abby retraiu-se e deu-me espaço na janela, sentando-se nas escadas de emergência molhadas pela chuva que caíra há pouco tempo. Tinha os olhos inchados e vermelhos, no entanto esboçava-me um sorriso fraco.
- Sabes aqueles dias ou noites em que parece que só fazes bosta, destruindo todo o mundo que te rodeia?- perguntou, quebrando o silêncio.
- Não quero falar do que te aconteceu. Só quero estar contigo, Abby!- disse segurando-lhe a mão- Somos melhores amigas desde pequenas e tenho a certeza de que o que se anda a passar entre ti e o Rick vai passar.
Abby abanou a cabeça, levantou-se e gritou.
- Eu e o Rick acabámos. Não te apercebes que, há medida que crescemos tudo muda? As pessoas continuam a pensar de mim o mesmo que as outras pensavam no secundário! Aqueles olhares, aquele murmurar por onde quer que passe.. Não há como desligar disso, Melodie!- chorando e esbracejando- Sempre viveste no teu mundo perfeito, sempre me protegeste delas até teres de ir para casa! Perfeita..sem qualquer cabelo fora do lugar! E agora vens para Londres e mudaste completamente! Enrolas-te com quem queres, bebes, foges.. Tu engravidaste e caíste das escadas porque ias atrás de um dos rapazes com quem te enrolaste! O que estás a tentar provar aqui? Que és perfeita independentemente do que fizeres ou disseres? Oh adivinha, acabei de estragar a minha relação e a tua! Fui a casa do teu namorado, embebedámo-nos, drogámo-nos e dormimos juntos!
Deixando-me boquiaberta, Abby levantou-se e subiu as escadas até ao telhado. Ao subir as escadas consegui notar que a camisola branca delas estava manchada de sangue nos pulsos.
- Abby espera!- gritei, subindo com ela.
Abby subiu apressadamente até ao telhado.
- Vai-te embora! Volta para o teu mundo perfeito! -gritou- O meu está destruido! Sai daqui!


Ao chegar ao telhado, Abby estava encostada ao muro que a separava do chão a uns grandes metros de altura.
- Abby, afasta-te daí, por amor de Deus!- gritei imóvel.
Abby chorava compulsivamente, soluçava tão alto que me fazia doer o coração. Não conseguia pensar no que ela fez, apenas no que ela estava a sentir naquele momento! Como pude, aliás, pudemos deixar escapar tal situação?!
Ajoelhei-me no chão e chorei.
- Volta, Abby!


*M

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Set the World on Fire!

"When they smash my heart into smithereens"


Stark entrega-me a garrafa de vodca e espero que eu bebesse um gole antes de começar a falar.

- Tens ido à faculdade? -perguntou.
-  Fui lá ontem. Encontrei o Gabe e ele emprestou-me todos os apontamentos que me faltavam.- respondi, sentido a garganta a arder e Stark à espera que eu bebesse mais.- E tu?
- Tenho ido lá todos os dias até a minha paciência se ter esgotado.- agarrou no charro que estava no cinzeiro e puxou um grande pedaço dele.- Como já te disse apercebi-me  de que não me serve de nada seguir música.

Sorri compreensivamente e pousei a minha mão na sua.
- Tu tens talento, Stark! A música só pode salvar a vida de quem a sente como tu a sentes, como a sentimos. Serve-nos de refúgio e é uma forma de expressarmos os nossos sentimentos.- bebi mais um gole e suspirei.- Mas isto já deve ser a vodca a falar.

Olhei-o nos olhos e soube que nem mesmo Melodie conhecia este Stark, muito provavelmente. Ela conta que Stark é sensível, querido, amoroso. Fala-nos do verde dos seus olhos e dos seus músculos bem definidos. No entanto, eu vi alguém que outrora tinha esperança, que estava determinado a atingir  a meta que estabelecera. Até que tudo isso se havia perdido. Stark sentia-se estúpido, inútil, perdido.
Fiquei com pena e bebi mais um gole de vodca. Que se lixe tudo! Sentia-me inútil e queria, a todo o custo, esquecer-me de quem era e acordar para a realidade. Não conseguimos salvar ninguém!
O tempo foi passando com a droga e o álcool a mexerem nas conversas, movendo-nos para um estado de melancolia tal, que quando surgiu um concerto dos anos 80, tudo mudou. Senti a necessidade de me levantar do sofá e fazer figurinhas tristes ao som da música. Sentia-me parte da multidão, extasiada.
Stark ria-se no sofá.
- Não conhecia essa faceta tua! Pensava que curtias as festas mas não eras tu que as começavas
- Engraçado, pensava que eras um santinho e agora olha, tens a casa cheia de gente pedrada e bêbeda!- respondi, ao tirar-lhe o charro que acabara de enrolar e acendê-lo.- Para além disso, estou-me a marimbar para o que pensas. Precisava de me soltar mais.
Stark acompanhou-me e, à medida que inventávamos coreografias idiotas, ouvia o meu telemóvel a tocar. Ignorei.

Cansada, sentei-me e encostei-me a Stark, ofegante,
- Fazes isto muitas vezes? Sozinho? Quer dizer, a Mel sabe?- perguntei.
- É a segunda vez que faço isto! Ela nunca vai saber...acho eu! - respondeu afagando-me o cabelo- E tu? Nunca te vi assim!
- Já fumei charros no secundário mas esta foi a primeira vez que os misturei com álcool.- ri-me porque sabia que não fazia sentido o que havia dito.
Levantei-me cambaleante, olhei-o nos olhos e, ciente do que começava a sentir, peguei na mala. Stark agarrou-me no braço, obrigou-me a olhar mais uma vez a olhá-lo e lá estava aquele furor, aquela vontade.
- Fica... por favor!
- Não me sinto..bem!- respondi- Devia ir apanhar ar. 
Mas, de súbito, sentia os seus lábios a pressionarem os meus, as suas mãos a agarrarem o meu corpo e eu sem capacidade de reacção. Deixei-me levar e quando dei por mim estávamos no sofá, com as suas mãos a percorrerem o meu corpo, expressando um desejo ardente de posse. Desapertou-me a camisa, enquanto os seus lábios desenhavam-me o pescoço, já em tronco nu. Apenas me consegui agarrar a ele enquanto o seu corpo se acomodava ao meu e explodia com o que sabia fazer.
- Pára!- gritei, quando ele me tirara as calças. Uma onda de choque percorreu o meu corpo quando o empurrei para trás com toda a força e corri para a casa de banho.


*A

domingo, 13 de maio de 2012

Numb

"Can't you see what our lies have come to be?"

   Melodie entrara em coma há uma semana após o acidente e a vida mergulhou numa monotonia de trocas de turnos que nos fazia sentir estúpidos e responsáveis. Ela não tinha mais ninguém. Nem pais. Nem família. Só nós.
   A sala de espera estava coberta por posters incentivando um melhor cuidado com a saúde pessoal e da população inglesa, para além do excesso de moribundos e idosas ansiosas por ver o seu homem de sonho, o médico, já que os maridos deixaram de as satisfazer e alimentar os seus desejos. Sentei-me no canto mais vazio da sala, percorrendo uma série de filas de miúdos embirrentos, mães em stress e velhinhos impacientes, todos eles atentos aos meus movimentos, mudando depois a sua atenção para uma espécie de programa matinal na televisão. Nem isso me impedia de fazer uma retrospetiva e pensar no que havia acontecido depois de ter deixado Melodie sozinha com Adam.
   No meio dos meus pensamentos, notei que a multidão se movia, atenta aos movimentos de alguém. Monie esboçava um tom negro e frio, tinha a cara pálida e durante esta semana mal tem comido.
  - O médico disse que era um rapaz! Mal se estava a desenvolver e foi logo esmagado pelo corpo de Mel quando este caía pelas escadas abaixo..- declarou pausadamente como se estivesse a engolir a dor.- Achas que foi de propósito?
   Não olhei para ela, nem consegui desviar o olhar do vazio.
   - Não nos cabe a nós julgar, apenas servimos para estar com ela. Mas duvido que tenha feito de propósito.- respondi, com cólera.- Queres sair daqui? Talvez comer alguma coisa?

  Pensei que surtiria algum efeito uma caneca de café e um ambiente mais descontraído mas de nada fez para apagar momentaneamente a ansiedade e o cansaço que pairava em cima de nós. Monie estava devastada, notava-se. Provavelmente, a culpa estava a consumi-la por dentro. Por se ter ausentado, por se ter focado tanto na discussão com Johnny que se esqueceu dele por completo. Não sei, apenas sei que lhe restam forças para existir.
   - Não comes o donut?- perguntei.
   - Não tenho fome.- respondeu, seguido de um suspiro enorme.- Não fui capaz de lhe falar. Só de ver a cara dele comecei logo a lembrar do... Entrei calada e saí muda!
   - Bem- disse, acabada de dar o último gole de café- isso tem deser resolvido, miuda. Estás a morrer por dentro e tu sabes disso.Tens de pelo menos decidir o que fazer em relação a vocês.
   A conversa suspendeu-se quando Cassie apareceu e Monie arranjou uma desculpa plausível para sair. Cassie, por sua vez, estava em estado de choque pelo acidente da prima e com um sentimento de culpa por ter estragado o relacionamento mais sólido da casa.
   - Ela nunca me vai perdoar pois não? Bolas, porque é que nuncapenso nas pessoas que saem magoadas?!- desabafou, passando as mãos pela cara.
   -Dá-lhe tempo! Ela ainda está a absorver tudo o que aconteceu. Vais ficar aqui? É que eu tenho de ir para casa. - respondi.
Cassie assentiu, dizendo que tinha de se preparar para aguentar 5 horas numa sala de hospital mórbida onde estava a prima.
   Quando acabei de passar os apontamentos, o telemóvel tocou.
" Hey, é o Gabriel! Era só para saber como vão as coisas e se tu e a Monie vêm até à faculdade amanhã!"
 - Eu não, estou a acompanhar a Melodie, mas a Monie é capaz de ir. Porquê?- respondi secamente.
"Nada.. Só para saber! Fico feliz por ela já estar cá! Tem um resto de bom dia"

   Quando desliguei, Harmonie estava à minha porta.
   - Era o Gabriel?- perguntou à qual eu apenas assenti- Nunca mais o vi por cá.. Tenho saudades de estarmos todos juntos e felizes.
   - Monie, eu penso imensa desculpa mas estou sem paciência para lamechices. Ando preocupada demais com tudo e todos e nem tenho tempo só para mim. Vou dar uma volta ok?- respondi secamente.
   Monie sorriu e mandou-me uma palmada leve nas costas.
  - Pareces o Stark! Coitadito, deve tar mesmo em baixo. Devo esperar-te para jantar?
  - Não, o Rick e eu combinámos ir sair hoje. Até logo!

   Não sou capaz de me habituar a mudanças na minha rotina, nem ao ambiente tenso que agora se instalou em casa. A verdade é que acho que Johnny tomou a decisão mais estúpida ao beijar Cassie, mas que rapaz não cedia aos pedidos dela perante os seus atributos. Também acho que Melodie tomou a decisão errado ao envolver-se com Adam, mas também perante o passados dos dois..
   Resolvi passar pela casa de Stark, ainda estava a dois quarteirões de distância e eram só duas da tarde, pelo que não achei que fosse causar qualquer incómodo.
   Quando Stark abriu a porta estava irreconhecível, destacando-se (e de que maneira) os seus olhos vermelhos, cabelo despenteado e roupa desmazelada. Ainda assim esboçava um sorriso.
   - Meu Deus! O que te aconteceu?- perguntei alarmada- Como é que estás?
   Este Stark não era o que eu conhecia, arrumado e sempre preocupado com a sua higiene. Porém sorriu, olhando-me de alto a baixo.
   - Hey Abby! Bons olhos te vejam! Entra e serve-te. Queres vodca, cerveja..?
   Ao entrar, conseguia-se distinguir uma espécie de neblina a pairar pela casa e o cheiro intenso e hipnotizante a marijuana. A entrada estava decorada com fotografias de família na parede e um tapete antigo que se encontrava em péssimo estado. Stark empurrou-me para a sala, onde a nuvem era mais intensa e, na pequena mesa central, se encontrava a fonte. Havia uma televisão ligada na VH1, na qual estava a dar um dos grandes e fabulosos concertos dos Queen, uma estante cheia de livros aparentemente velhos e por cima dela estava um estojo de violino com uma leve camada de pó na superfície.
   - Esta casa está uma pocilga,Stark! O que te aconteceu? - perguntei, engolindo um trago de uma garrafa de vodca.
   Stark sorriu e passou-me o braço pelos ombros.
   - Abby, querida, descontrai! Estou só a dar um miminho a mim próprio... Não é obrigatório estarmos todos de luto pelo que aconteceu, eh? Para além disso, já não me interessa para nada estudar aquele pedaço podre com cordas! Não é capaz de salvar vidas e eu muito menos...Primeiro o meu filho e agora é a mulher que amo!- respondeu agressivamente, puxando o fumo de um charro acabado de fazer- Mas como disse,é só um miminho...Queres?
   Ele tinha razão, por mais vontade que tenhamos, o que aconteceu foi inevitável. Tirei-lhe o charro da mão e sorri.
   - Também preciso de um miminho assim..

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Alive?

" As nuvens chegam. Vou para dentro de casa, a chuva estava a chegar.
 - Mãe? Posso tirar fotografias à chuva?
 - Não vale a pena, vais estragar a máquina do teu pai.
 - Mas oh mãe! Eu não a estrago!
 - Já te disse que não.
Dou um pontapé no sofá e deito-me nele, hoje a mãe estava do contra.
 A mãe começa a cantar a minha música... Ela conhece-me melhor que ninguém...
 Chega-se para perto de mim e tapa-me com um lençol, estava calor, destapei os pés.
 Adormeço num instante com a melodia da mamã."








  ..." Bip... Bip... Bip... "


        "Credo isto não se parece nada com a música da mãe"

 - Ela está estavel, mais uns dias, ou horas e acorda... Ela é forte e vai aguentar tudo isto.
 - Mas, doutor... Ela já está em coma há uma semana!!
  "Abby!"
 - Calma, menina. Quando alguém fica em coma, requer tempo para acordar. Estar em coma significa que o corpo tem que recuperar mais lentamente, sem gastar energia.
 - Eu sei! Não é por acaso que tirava a melhor nota no secundário a Ciências!
 "Só podia ser a Monie.."




" Acordo com o estrondo de um trovão.
A casa estava de pernas para o ar, janelas abertas, portas arrombadas, papeis as esvoaçar, tudo no ar junto com uma ventania tirana.
 - Mamã!
A mãe vem a correr ter comigo, pega-me ao colo e esconde-me debaixo da mesa.
 - Não saias daqui até eu dizer. Ok? Ouviste-me??
 - Si... Sim!!!
 -Arnold? Ajuda-me! Arnold? Oh não!!! Oh Deus! Porquê?! Arnold!!! Ahhh!!!
Ouço um estrondo junto de um silêncio absoluto.
Fico de baixo da mesa, de lágrimas nos olhos.
 - Mamã? Papá? "




... " Bip... Bip... Bip... "




                                                                                                              *M

terça-feira, 1 de maio de 2012

Reverse

Hoje, a felicidade escorria-me pelo meu ser e com ela, acordar foi bem mais fácil do que alguma vez pensara.
Deixei Rick no telhado e desci até ao apartamento, onde encontrei Cassandra que estava sentada ao balcão, melancólica.
- Por favor, diz-me que não estás assim porque o Noah estragou o encontro.
- Não- responde- o encontro correu imensamente bem!
Sorri de orelha a orelha.
- Uuuuii que isso vai bonito... E já houve....algum kiss? ahahah.
Ela porém não sorriu.
- Não.. E esse é o problema! Não houve porque... Nunca beijei ninguém, Abby!


Eu confortei-a, dizendo que não havia problema.
- Mas descansa porque eu já me sinto preparada para hoje à noite.- disse como se tivesse reanimado.
- A sério? Como?
- Digamos que estive com um treinador experiente. 
De súbito, entra de rompante e exaltadamente Monie que gritava e gesticulava para Johnny:
- Como é que foste capaz? – E quando reparou quem estava na sala, semicerrou os olhos. – Tu! Tu és a culpada de tudo isto, não és? Eu bem via como o olhavas... – gritou para Cassie.
- Amor, Harmonie, eu estava a tentar ajudá-la! Foi uma decisão minha, deixa-a em paz! Impôs-se Johnny, tentando sossega-la.
Monie desfazia-se em lágrimas, Cassie fugiu para o apartamento de Noah, certamente, Johnny estava atrapalhado e eu… admirada.
- Vocês estão de cabeça quente, se calhar é melhor…
- Pára! Como se fosses muito perfeita, Abigail! Não tens moral para interferir nos assuntos dos outros. Andas a esconder o Noah quando ele te magoou durante anos! Cai na real!! Mais tarde ou mais cedo o Rick vai acabar por descobrir a verdade sobre o teu “priminho”. – gritou, interrompendo-me.
Dito isto, sobre as escadas, seguido de Johnny que lhe pedia para falar com ela, ouvindo uma porta a fechar-se de seguida.
As minhas mãos tremiam, suores frios percorriam-me o corpo, quando me lembrei que Melodie devia ter acordado com a gritaria, pelo que me tentei acalmar e subir as escadas. Perdoei-a.
(…)


Após ter deixado o quarto, fui-me deitar no sofá para descansar um pouco daquela manhã. Ou então não! Sentei-me no sofá a pensar em algo produtivo para fazer. Estava farta de não sair e não fazer nada.
Apanhei então, o autocarro até à faculdade e resolvi ir para a biblioteca adicionar as matérias que faltavam de Inglês e Acústica. Por entre prateleiras altas com livros idosos e cheios de pó, encontrei uma mesa longe de toda a multidão e ideal para me concentrar. Passei cerca de 2 hora a escrever os cadernos a limpo e a esquematizar a matéria toda.
Sentia-me feliz, no entanto, não me encontrava realizada. Sentia que tinha algo ainda a fazer, algo que me fazia nervosa. Metida nos meus próprios pensamentos não me apercebi de quem estava à minha frente, pelo que fui ao encontro de alguém.


- Peço desculpa. Estava…
- Distraída? Eu sei – era Gabriel, feliz – Está tudo bem? Vocês não têm vindo à faculdade.
- Pois, ahm… Tem havido problemas lá em casa. O reitor está a par disto, não te preocupes – respondi, hesitante.
- Ainda bem, então. E em que é que a menina Abby estava a pensar? Posso saber? – perguntou numa pressa.
- Na realidade, é um assunto que eu tenho de resolver com o Rick mas tenho medo da sua reacção. – Respondi, tentando procurar uma saída – Como vês, impossível alguém fazer algo por mim. – Sorri- Mas obrigada pela ajuda.
Gabriel sorriu e pôs-me a mão no ombro.
- Aposto que se abordares com calma, ele vai entender e reagir bem. Precisas de alguma coisa das matérias das últimas semanas? – Acrescentou.


Assenti, quase implorando, porque precisava de toda a informação das disciplinas para me preparar para os testes. Depois de ter tirado fotocópia do caderno de Gabriel, dirigi-me até à baixa para comer alguma coisa… ou almoçar!
Londres nunca deixara o seu encanto, apesar do apartamento e das suas paredes terem sido a minha única paisagem, ultimamente.As pessoas continuavam apressadas pelas ruas, pela estrada e a entrar em todas as portas abertas e visíveis. No entanto, o único restaurante de fast-food onde eu conseguia entrar e comer era o “plástico” que vendiam, desde que me mudei para cá. Para além da qualidade da comida, este restaurante atrai-me pela simpatia, não só dos empregados, mas também do gerente que se preocupa com a comodidade e bem-estar dos seus clientes.


“ Já almoçaste ? Estou no 60’s.” – mandei a Rick, quando acabei de chegar.
“Ok. Espera por mim. Estou a chegar  à baixa.” – Respondeu.


Não demorou muito a chegar, pelo que ainda estava a pedir o meu almoço. Trazia um ramo de flores e um sorriso nos lábios.
- Ui, alguém acordou feliz hoje! Desculpa ter saído tão cedo. – pedi, mal me entregou o ramo.
- Não faz mal. Lá em casa é que está um ambiente de cortar à faca. ´
- A quem o dizes! Eu passei a manhã na biblioteca da faculdade a actualizar a matéria. Se quiseres depois empresto-te.
- Não é preciso, só faltei dois dias! Está tudo bem?- a sua cara continuava sorridente e bem-disposta, provocando-me arrepios e uma perda de coragem para lhe contar aquilo que nunca devia ter feito.
- Sim, está…mas há algo que devias saber...- respondi.

Rick ficou sério e preparado para ouvir tudo aquilo que tinha de dizer. As pancadas nervosas na barriga aumentaram e, consequentemente, a minha pulsação também; as minhas mãos tremiam e começava a sentir suores frios, como se Harmonie ainda estivesse a gritar comigo naquela manhã. Respirei fundo.

- O Noah…Ele não é meu primo! Ele é o meu ex-namorado..-pronto, já tinha despejado tudo e, fechando os olhos, preparei-me para uma resposta que me deitasse ao chão num ápice e me fizesse desaparecer deste mundo.

Porém, Rick riu-se e colocou a sua mão em cima da minha.
- Eu suspeitava disso desde que ele chegou… Andavam bastante cúmplices e notava-se que havia história atrás! E pedi informações à Melodie sobre o teu ex-namorado cujo nome ela nunca me quisera revelar…mas tenho uma dúvida, apenas: porque é que o acolheste depois do que ele te fez?- discursou ele, convicto de que fez um brilharete.
  
- Porque, mesmo que ele me tenha magoado muito (e acredita que magoou bastante), não deixa de ter o direito de errar. Ele é humano, somos todos, não é verdade?- sorri- E não nos cabe a nós julgar quem quer que seja, porque nós próprios fazemos asneiras e magoamos pessoas. Por isso, temos de aprender a perdoar e a começar do zero…as vezes que forem necessárias! Perdoas-me?

Rick levanta-se da mesa e ajoelha-se aos meus pés, segurando-me na mão.
 - Abby, eu sempre confiei em ti. E mesmo que me tivesses traído com ele outra vez, eu dava-te a liberdade e o tempo que quisesses para pensar bem sobre quem quererias. Sabes porquê? Porque o amor espera e anseia pela verdade. É assim que eu vejo o nosso, Abigail!- e, levantando-se beijou-me, num beijo interrompido pela empregada de mesa que trazia os nossos almoços, pedindo imensa desculpa por se ter intrometido.

Assim passou o almoço, conversando e rindo de tudo e de nada, até chegar a hora de Rick ir para a aula de instrumento e de eu voltar para casa para organizar as tropas.
Para variar, a casa já estava toda desarrumada -outra vez- e parecia vazia quando entrei.
- Hello?! Está alguém em casa?- gritei, quando pousei as chaves.
Não obtive resposta, pelo que decidi subir e começar a arrumar esta pocilga de casa pelo meu quarto, seguindo-se o resto dos compartimentos. Acabado o meu quarto, segui para o quarto da Harmonie. Quando abri a porta, apercebi-me de que a casa não estava de todo vazia, pois Monie estava a dormir em cima da cama e tinha os olhos inchados. Tentava cobri-la com os lençóis da cama e aconchegar o máximo que podia para ela tentar descansar quando o telemóvel dela tocou. Para não a acordar, atendi.
- Monie, és tu?- perguntava a voz do outro lado.
- Não, daqui é a Abby. Quem fala?- perguntei.
- Daqui é o Adam! Tentei ligar-te mas não atendeste.
- Hey, Adam! Estou a arrumar a casa e deixei o meu telemóvel no meu quarto. Que me querias?
-Queria avisar-vos que estou agora mesmo com o John e a Melodie no hospital. Ela caiu das escadas e está a ser analisada pelos médicos. Queria avisar que o John foi buscar, pelo menos, uma de vós para estar com ela quando acordar porque eu tenho de me ir embora.
A notícia chocou-me, deixando-me a pensar no que teria acontecido depois de eu ter fechado a porta de casa.
- Meu Deus… Eu vou acordar a Monie e vamos ver o que fazer. Obrigada por teres avisado, Adam. - Desliguei o telefone e comecei a acordar a Monie.
Monie estava calma quando acordou, porém, via-se que estava cansada para pensar normalmente.
- Precisas de alguma coisa?- perguntei.
- Sim, preciso de te pedir desculpa por esta manhã… Estava com a cabeça à roda e tu levaste por tabela. Só espero que o Rick não tenha ouvido!
- Não faz mal! Eu já falei com ele, já o devia ter feito há mais tempo…tinhas razão!
- Mas eu não gosto de ser assim… Já me conheces! E o que vamos fazer quanto à Mel?
- Sinceramente, gostava que fosses tu desta vez! Tenho de arrumar esta casa e ainda tenho de passar os apontamentos que o Gabriel me emprestou para os testes da próxima semana. Não te importas?- respondi, segurando na sua mão.
- Nem por isso! Até me ajuda porque preciso de sair destas quatro paredes. Às vezes parecem que nos tiram metade da nossa vida e eu preciso de ver o mundo. Depois empresta-me os apontamentos, sim?- dito isto, conseguiu soltar um pequeno sorriso que mostrava o quão magoada ela realmente estava.

Abracei-a e sorri misericordiosamente perante a Monie ferida e desorientada.
- Ele não fez para te magoar… Ele queria ajudar a Cassie! Ele não gosta dela e ela não gosta dele! A Cassie estava desesperada porque nunca beijou ninguém e ela queria estar preparada para quando o Noah a beijasse, ela soubesse o que fazer. Tenta entendê-lo e, para além disso, tu conheces o Johnny… Achas que ele te trairia?
Harmonie desvia o olhar para a janela e respira fundo, preparando-se para me encarar de novo.
- Eu tenho medo de o perder, tal como tenho medo de vos perder. Eu sei que ele nunca me trairia mas…Olha, não sei o que me deu… Parece que o mundo à minha volta está a endoidecer!
- Não desistas de tudo aquilo que lutaste até agora, por favor! Vais ver que é só uma fase.- Disse, abraçando-a com muita força.

Depois de Monie se arranjar para ir com o Johnny até ao hospital e resolver a sua vida, continuei a endireitar a pocilga do nosso apartamento. Quando acabei eram 7 horas da tarde e ninguém tinha dado sinal sobre Melodie e Rick tinha ido trabalhar. Ao passar os apontamentos que fotocopiei do caderno de Gabriel, notei que a sua letra esquisita me era familiar e, de súbito, surgiu uma luzinha no meu cérebro. Fui buscar um daqueles bilhetes anónimos que recebera e comparei a caligrafia.

- Não acredito nisto!- gritei- Encontrei-te, besta!

Liguei a Monie para lhe contar a minha descoberta.
- Nem imaginas, Monie, o que descobri!!
- Queres contar tu primeiro a tua descoberta ou queres a minha novidade?- perguntou ela, severa.
- Deixa-me ser eu! Já sei quem andou a escrever os bilhetes anónimos. Foi o Gabriel, a caligrafia dos bilhetes coincidem com a dos apontamentos! É ele, só pode!- respondi.
- Boa!! Enquanto te estiveste a armar em C.S.I., a Mel perdeu o bebé! Ela está a perder muito sangue e tem de ficar internada mais 3 ou 4 dias no mínimo.


Londres, 12 de Outubro de 2010 

*A