domingo, 13 de maio de 2012

Numb

"Can't you see what our lies have come to be?"

   Melodie entrara em coma há uma semana após o acidente e a vida mergulhou numa monotonia de trocas de turnos que nos fazia sentir estúpidos e responsáveis. Ela não tinha mais ninguém. Nem pais. Nem família. Só nós.
   A sala de espera estava coberta por posters incentivando um melhor cuidado com a saúde pessoal e da população inglesa, para além do excesso de moribundos e idosas ansiosas por ver o seu homem de sonho, o médico, já que os maridos deixaram de as satisfazer e alimentar os seus desejos. Sentei-me no canto mais vazio da sala, percorrendo uma série de filas de miúdos embirrentos, mães em stress e velhinhos impacientes, todos eles atentos aos meus movimentos, mudando depois a sua atenção para uma espécie de programa matinal na televisão. Nem isso me impedia de fazer uma retrospetiva e pensar no que havia acontecido depois de ter deixado Melodie sozinha com Adam.
   No meio dos meus pensamentos, notei que a multidão se movia, atenta aos movimentos de alguém. Monie esboçava um tom negro e frio, tinha a cara pálida e durante esta semana mal tem comido.
  - O médico disse que era um rapaz! Mal se estava a desenvolver e foi logo esmagado pelo corpo de Mel quando este caía pelas escadas abaixo..- declarou pausadamente como se estivesse a engolir a dor.- Achas que foi de propósito?
   Não olhei para ela, nem consegui desviar o olhar do vazio.
   - Não nos cabe a nós julgar, apenas servimos para estar com ela. Mas duvido que tenha feito de propósito.- respondi, com cólera.- Queres sair daqui? Talvez comer alguma coisa?

  Pensei que surtiria algum efeito uma caneca de café e um ambiente mais descontraído mas de nada fez para apagar momentaneamente a ansiedade e o cansaço que pairava em cima de nós. Monie estava devastada, notava-se. Provavelmente, a culpa estava a consumi-la por dentro. Por se ter ausentado, por se ter focado tanto na discussão com Johnny que se esqueceu dele por completo. Não sei, apenas sei que lhe restam forças para existir.
   - Não comes o donut?- perguntei.
   - Não tenho fome.- respondeu, seguido de um suspiro enorme.- Não fui capaz de lhe falar. Só de ver a cara dele comecei logo a lembrar do... Entrei calada e saí muda!
   - Bem- disse, acabada de dar o último gole de café- isso tem deser resolvido, miuda. Estás a morrer por dentro e tu sabes disso.Tens de pelo menos decidir o que fazer em relação a vocês.
   A conversa suspendeu-se quando Cassie apareceu e Monie arranjou uma desculpa plausível para sair. Cassie, por sua vez, estava em estado de choque pelo acidente da prima e com um sentimento de culpa por ter estragado o relacionamento mais sólido da casa.
   - Ela nunca me vai perdoar pois não? Bolas, porque é que nuncapenso nas pessoas que saem magoadas?!- desabafou, passando as mãos pela cara.
   -Dá-lhe tempo! Ela ainda está a absorver tudo o que aconteceu. Vais ficar aqui? É que eu tenho de ir para casa. - respondi.
Cassie assentiu, dizendo que tinha de se preparar para aguentar 5 horas numa sala de hospital mórbida onde estava a prima.
   Quando acabei de passar os apontamentos, o telemóvel tocou.
" Hey, é o Gabriel! Era só para saber como vão as coisas e se tu e a Monie vêm até à faculdade amanhã!"
 - Eu não, estou a acompanhar a Melodie, mas a Monie é capaz de ir. Porquê?- respondi secamente.
"Nada.. Só para saber! Fico feliz por ela já estar cá! Tem um resto de bom dia"

   Quando desliguei, Harmonie estava à minha porta.
   - Era o Gabriel?- perguntou à qual eu apenas assenti- Nunca mais o vi por cá.. Tenho saudades de estarmos todos juntos e felizes.
   - Monie, eu penso imensa desculpa mas estou sem paciência para lamechices. Ando preocupada demais com tudo e todos e nem tenho tempo só para mim. Vou dar uma volta ok?- respondi secamente.
   Monie sorriu e mandou-me uma palmada leve nas costas.
  - Pareces o Stark! Coitadito, deve tar mesmo em baixo. Devo esperar-te para jantar?
  - Não, o Rick e eu combinámos ir sair hoje. Até logo!

   Não sou capaz de me habituar a mudanças na minha rotina, nem ao ambiente tenso que agora se instalou em casa. A verdade é que acho que Johnny tomou a decisão mais estúpida ao beijar Cassie, mas que rapaz não cedia aos pedidos dela perante os seus atributos. Também acho que Melodie tomou a decisão errado ao envolver-se com Adam, mas também perante o passados dos dois..
   Resolvi passar pela casa de Stark, ainda estava a dois quarteirões de distância e eram só duas da tarde, pelo que não achei que fosse causar qualquer incómodo.
   Quando Stark abriu a porta estava irreconhecível, destacando-se (e de que maneira) os seus olhos vermelhos, cabelo despenteado e roupa desmazelada. Ainda assim esboçava um sorriso.
   - Meu Deus! O que te aconteceu?- perguntei alarmada- Como é que estás?
   Este Stark não era o que eu conhecia, arrumado e sempre preocupado com a sua higiene. Porém sorriu, olhando-me de alto a baixo.
   - Hey Abby! Bons olhos te vejam! Entra e serve-te. Queres vodca, cerveja..?
   Ao entrar, conseguia-se distinguir uma espécie de neblina a pairar pela casa e o cheiro intenso e hipnotizante a marijuana. A entrada estava decorada com fotografias de família na parede e um tapete antigo que se encontrava em péssimo estado. Stark empurrou-me para a sala, onde a nuvem era mais intensa e, na pequena mesa central, se encontrava a fonte. Havia uma televisão ligada na VH1, na qual estava a dar um dos grandes e fabulosos concertos dos Queen, uma estante cheia de livros aparentemente velhos e por cima dela estava um estojo de violino com uma leve camada de pó na superfície.
   - Esta casa está uma pocilga,Stark! O que te aconteceu? - perguntei, engolindo um trago de uma garrafa de vodca.
   Stark sorriu e passou-me o braço pelos ombros.
   - Abby, querida, descontrai! Estou só a dar um miminho a mim próprio... Não é obrigatório estarmos todos de luto pelo que aconteceu, eh? Para além disso, já não me interessa para nada estudar aquele pedaço podre com cordas! Não é capaz de salvar vidas e eu muito menos...Primeiro o meu filho e agora é a mulher que amo!- respondeu agressivamente, puxando o fumo de um charro acabado de fazer- Mas como disse,é só um miminho...Queres?
   Ele tinha razão, por mais vontade que tenhamos, o que aconteceu foi inevitável. Tirei-lhe o charro da mão e sorri.
   - Também preciso de um miminho assim..

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Alive?

" As nuvens chegam. Vou para dentro de casa, a chuva estava a chegar.
 - Mãe? Posso tirar fotografias à chuva?
 - Não vale a pena, vais estragar a máquina do teu pai.
 - Mas oh mãe! Eu não a estrago!
 - Já te disse que não.
Dou um pontapé no sofá e deito-me nele, hoje a mãe estava do contra.
 A mãe começa a cantar a minha música... Ela conhece-me melhor que ninguém...
 Chega-se para perto de mim e tapa-me com um lençol, estava calor, destapei os pés.
 Adormeço num instante com a melodia da mamã."








  ..." Bip... Bip... Bip... "


        "Credo isto não se parece nada com a música da mãe"

 - Ela está estavel, mais uns dias, ou horas e acorda... Ela é forte e vai aguentar tudo isto.
 - Mas, doutor... Ela já está em coma há uma semana!!
  "Abby!"
 - Calma, menina. Quando alguém fica em coma, requer tempo para acordar. Estar em coma significa que o corpo tem que recuperar mais lentamente, sem gastar energia.
 - Eu sei! Não é por acaso que tirava a melhor nota no secundário a Ciências!
 "Só podia ser a Monie.."




" Acordo com o estrondo de um trovão.
A casa estava de pernas para o ar, janelas abertas, portas arrombadas, papeis as esvoaçar, tudo no ar junto com uma ventania tirana.
 - Mamã!
A mãe vem a correr ter comigo, pega-me ao colo e esconde-me debaixo da mesa.
 - Não saias daqui até eu dizer. Ok? Ouviste-me??
 - Si... Sim!!!
 -Arnold? Ajuda-me! Arnold? Oh não!!! Oh Deus! Porquê?! Arnold!!! Ahhh!!!
Ouço um estrondo junto de um silêncio absoluto.
Fico de baixo da mesa, de lágrimas nos olhos.
 - Mamã? Papá? "




... " Bip... Bip... Bip... "




                                                                                                              *M

terça-feira, 1 de maio de 2012

Reverse

Hoje, a felicidade escorria-me pelo meu ser e com ela, acordar foi bem mais fácil do que alguma vez pensara.
Deixei Rick no telhado e desci até ao apartamento, onde encontrei Cassandra que estava sentada ao balcão, melancólica.
- Por favor, diz-me que não estás assim porque o Noah estragou o encontro.
- Não- responde- o encontro correu imensamente bem!
Sorri de orelha a orelha.
- Uuuuii que isso vai bonito... E já houve....algum kiss? ahahah.
Ela porém não sorriu.
- Não.. E esse é o problema! Não houve porque... Nunca beijei ninguém, Abby!


Eu confortei-a, dizendo que não havia problema.
- Mas descansa porque eu já me sinto preparada para hoje à noite.- disse como se tivesse reanimado.
- A sério? Como?
- Digamos que estive com um treinador experiente. 
De súbito, entra de rompante e exaltadamente Monie que gritava e gesticulava para Johnny:
- Como é que foste capaz? – E quando reparou quem estava na sala, semicerrou os olhos. – Tu! Tu és a culpada de tudo isto, não és? Eu bem via como o olhavas... – gritou para Cassie.
- Amor, Harmonie, eu estava a tentar ajudá-la! Foi uma decisão minha, deixa-a em paz! Impôs-se Johnny, tentando sossega-la.
Monie desfazia-se em lágrimas, Cassie fugiu para o apartamento de Noah, certamente, Johnny estava atrapalhado e eu… admirada.
- Vocês estão de cabeça quente, se calhar é melhor…
- Pára! Como se fosses muito perfeita, Abigail! Não tens moral para interferir nos assuntos dos outros. Andas a esconder o Noah quando ele te magoou durante anos! Cai na real!! Mais tarde ou mais cedo o Rick vai acabar por descobrir a verdade sobre o teu “priminho”. – gritou, interrompendo-me.
Dito isto, sobre as escadas, seguido de Johnny que lhe pedia para falar com ela, ouvindo uma porta a fechar-se de seguida.
As minhas mãos tremiam, suores frios percorriam-me o corpo, quando me lembrei que Melodie devia ter acordado com a gritaria, pelo que me tentei acalmar e subir as escadas. Perdoei-a.
(…)


Após ter deixado o quarto, fui-me deitar no sofá para descansar um pouco daquela manhã. Ou então não! Sentei-me no sofá a pensar em algo produtivo para fazer. Estava farta de não sair e não fazer nada.
Apanhei então, o autocarro até à faculdade e resolvi ir para a biblioteca adicionar as matérias que faltavam de Inglês e Acústica. Por entre prateleiras altas com livros idosos e cheios de pó, encontrei uma mesa longe de toda a multidão e ideal para me concentrar. Passei cerca de 2 hora a escrever os cadernos a limpo e a esquematizar a matéria toda.
Sentia-me feliz, no entanto, não me encontrava realizada. Sentia que tinha algo ainda a fazer, algo que me fazia nervosa. Metida nos meus próprios pensamentos não me apercebi de quem estava à minha frente, pelo que fui ao encontro de alguém.


- Peço desculpa. Estava…
- Distraída? Eu sei – era Gabriel, feliz – Está tudo bem? Vocês não têm vindo à faculdade.
- Pois, ahm… Tem havido problemas lá em casa. O reitor está a par disto, não te preocupes – respondi, hesitante.
- Ainda bem, então. E em que é que a menina Abby estava a pensar? Posso saber? – perguntou numa pressa.
- Na realidade, é um assunto que eu tenho de resolver com o Rick mas tenho medo da sua reacção. – Respondi, tentando procurar uma saída – Como vês, impossível alguém fazer algo por mim. – Sorri- Mas obrigada pela ajuda.
Gabriel sorriu e pôs-me a mão no ombro.
- Aposto que se abordares com calma, ele vai entender e reagir bem. Precisas de alguma coisa das matérias das últimas semanas? – Acrescentou.


Assenti, quase implorando, porque precisava de toda a informação das disciplinas para me preparar para os testes. Depois de ter tirado fotocópia do caderno de Gabriel, dirigi-me até à baixa para comer alguma coisa… ou almoçar!
Londres nunca deixara o seu encanto, apesar do apartamento e das suas paredes terem sido a minha única paisagem, ultimamente.As pessoas continuavam apressadas pelas ruas, pela estrada e a entrar em todas as portas abertas e visíveis. No entanto, o único restaurante de fast-food onde eu conseguia entrar e comer era o “plástico” que vendiam, desde que me mudei para cá. Para além da qualidade da comida, este restaurante atrai-me pela simpatia, não só dos empregados, mas também do gerente que se preocupa com a comodidade e bem-estar dos seus clientes.


“ Já almoçaste ? Estou no 60’s.” – mandei a Rick, quando acabei de chegar.
“Ok. Espera por mim. Estou a chegar  à baixa.” – Respondeu.


Não demorou muito a chegar, pelo que ainda estava a pedir o meu almoço. Trazia um ramo de flores e um sorriso nos lábios.
- Ui, alguém acordou feliz hoje! Desculpa ter saído tão cedo. – pedi, mal me entregou o ramo.
- Não faz mal. Lá em casa é que está um ambiente de cortar à faca. ´
- A quem o dizes! Eu passei a manhã na biblioteca da faculdade a actualizar a matéria. Se quiseres depois empresto-te.
- Não é preciso, só faltei dois dias! Está tudo bem?- a sua cara continuava sorridente e bem-disposta, provocando-me arrepios e uma perda de coragem para lhe contar aquilo que nunca devia ter feito.
- Sim, está…mas há algo que devias saber...- respondi.

Rick ficou sério e preparado para ouvir tudo aquilo que tinha de dizer. As pancadas nervosas na barriga aumentaram e, consequentemente, a minha pulsação também; as minhas mãos tremiam e começava a sentir suores frios, como se Harmonie ainda estivesse a gritar comigo naquela manhã. Respirei fundo.

- O Noah…Ele não é meu primo! Ele é o meu ex-namorado..-pronto, já tinha despejado tudo e, fechando os olhos, preparei-me para uma resposta que me deitasse ao chão num ápice e me fizesse desaparecer deste mundo.

Porém, Rick riu-se e colocou a sua mão em cima da minha.
- Eu suspeitava disso desde que ele chegou… Andavam bastante cúmplices e notava-se que havia história atrás! E pedi informações à Melodie sobre o teu ex-namorado cujo nome ela nunca me quisera revelar…mas tenho uma dúvida, apenas: porque é que o acolheste depois do que ele te fez?- discursou ele, convicto de que fez um brilharete.
  
- Porque, mesmo que ele me tenha magoado muito (e acredita que magoou bastante), não deixa de ter o direito de errar. Ele é humano, somos todos, não é verdade?- sorri- E não nos cabe a nós julgar quem quer que seja, porque nós próprios fazemos asneiras e magoamos pessoas. Por isso, temos de aprender a perdoar e a começar do zero…as vezes que forem necessárias! Perdoas-me?

Rick levanta-se da mesa e ajoelha-se aos meus pés, segurando-me na mão.
 - Abby, eu sempre confiei em ti. E mesmo que me tivesses traído com ele outra vez, eu dava-te a liberdade e o tempo que quisesses para pensar bem sobre quem quererias. Sabes porquê? Porque o amor espera e anseia pela verdade. É assim que eu vejo o nosso, Abigail!- e, levantando-se beijou-me, num beijo interrompido pela empregada de mesa que trazia os nossos almoços, pedindo imensa desculpa por se ter intrometido.

Assim passou o almoço, conversando e rindo de tudo e de nada, até chegar a hora de Rick ir para a aula de instrumento e de eu voltar para casa para organizar as tropas.
Para variar, a casa já estava toda desarrumada -outra vez- e parecia vazia quando entrei.
- Hello?! Está alguém em casa?- gritei, quando pousei as chaves.
Não obtive resposta, pelo que decidi subir e começar a arrumar esta pocilga de casa pelo meu quarto, seguindo-se o resto dos compartimentos. Acabado o meu quarto, segui para o quarto da Harmonie. Quando abri a porta, apercebi-me de que a casa não estava de todo vazia, pois Monie estava a dormir em cima da cama e tinha os olhos inchados. Tentava cobri-la com os lençóis da cama e aconchegar o máximo que podia para ela tentar descansar quando o telemóvel dela tocou. Para não a acordar, atendi.
- Monie, és tu?- perguntava a voz do outro lado.
- Não, daqui é a Abby. Quem fala?- perguntei.
- Daqui é o Adam! Tentei ligar-te mas não atendeste.
- Hey, Adam! Estou a arrumar a casa e deixei o meu telemóvel no meu quarto. Que me querias?
-Queria avisar-vos que estou agora mesmo com o John e a Melodie no hospital. Ela caiu das escadas e está a ser analisada pelos médicos. Queria avisar que o John foi buscar, pelo menos, uma de vós para estar com ela quando acordar porque eu tenho de me ir embora.
A notícia chocou-me, deixando-me a pensar no que teria acontecido depois de eu ter fechado a porta de casa.
- Meu Deus… Eu vou acordar a Monie e vamos ver o que fazer. Obrigada por teres avisado, Adam. - Desliguei o telefone e comecei a acordar a Monie.
Monie estava calma quando acordou, porém, via-se que estava cansada para pensar normalmente.
- Precisas de alguma coisa?- perguntei.
- Sim, preciso de te pedir desculpa por esta manhã… Estava com a cabeça à roda e tu levaste por tabela. Só espero que o Rick não tenha ouvido!
- Não faz mal! Eu já falei com ele, já o devia ter feito há mais tempo…tinhas razão!
- Mas eu não gosto de ser assim… Já me conheces! E o que vamos fazer quanto à Mel?
- Sinceramente, gostava que fosses tu desta vez! Tenho de arrumar esta casa e ainda tenho de passar os apontamentos que o Gabriel me emprestou para os testes da próxima semana. Não te importas?- respondi, segurando na sua mão.
- Nem por isso! Até me ajuda porque preciso de sair destas quatro paredes. Às vezes parecem que nos tiram metade da nossa vida e eu preciso de ver o mundo. Depois empresta-me os apontamentos, sim?- dito isto, conseguiu soltar um pequeno sorriso que mostrava o quão magoada ela realmente estava.

Abracei-a e sorri misericordiosamente perante a Monie ferida e desorientada.
- Ele não fez para te magoar… Ele queria ajudar a Cassie! Ele não gosta dela e ela não gosta dele! A Cassie estava desesperada porque nunca beijou ninguém e ela queria estar preparada para quando o Noah a beijasse, ela soubesse o que fazer. Tenta entendê-lo e, para além disso, tu conheces o Johnny… Achas que ele te trairia?
Harmonie desvia o olhar para a janela e respira fundo, preparando-se para me encarar de novo.
- Eu tenho medo de o perder, tal como tenho medo de vos perder. Eu sei que ele nunca me trairia mas…Olha, não sei o que me deu… Parece que o mundo à minha volta está a endoidecer!
- Não desistas de tudo aquilo que lutaste até agora, por favor! Vais ver que é só uma fase.- Disse, abraçando-a com muita força.

Depois de Monie se arranjar para ir com o Johnny até ao hospital e resolver a sua vida, continuei a endireitar a pocilga do nosso apartamento. Quando acabei eram 7 horas da tarde e ninguém tinha dado sinal sobre Melodie e Rick tinha ido trabalhar. Ao passar os apontamentos que fotocopiei do caderno de Gabriel, notei que a sua letra esquisita me era familiar e, de súbito, surgiu uma luzinha no meu cérebro. Fui buscar um daqueles bilhetes anónimos que recebera e comparei a caligrafia.

- Não acredito nisto!- gritei- Encontrei-te, besta!

Liguei a Monie para lhe contar a minha descoberta.
- Nem imaginas, Monie, o que descobri!!
- Queres contar tu primeiro a tua descoberta ou queres a minha novidade?- perguntou ela, severa.
- Deixa-me ser eu! Já sei quem andou a escrever os bilhetes anónimos. Foi o Gabriel, a caligrafia dos bilhetes coincidem com a dos apontamentos! É ele, só pode!- respondi.
- Boa!! Enquanto te estiveste a armar em C.S.I., a Mel perdeu o bebé! Ela está a perder muito sangue e tem de ficar internada mais 3 ou 4 dias no mínimo.


Londres, 12 de Outubro de 2010 

*A