segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Are you who you wanna be?

"Don't close your eyes, this is your life.."

- E agora?
A minha cabeça doía-me e não parava de dar voltas pelo quarto.
- Deixa-me pensar, Stark..
Irritado com a falta de resposta e com as voltas que dava ao quarto, Stark agarrou-me e puxou-me pelo braço.
- A culpa é toda tua! Por tua causa, a minha relação com a Mel acabou!

- Larga-me! Estás a magoar-me!- gritei, tentando largar-me dele.- E que eu saiba, o sexo é uma atividade em que precisas de mais alguém! A culpa não é só minha. Agora, larga-me!
Stark empurra-me com força contra a parede e aperta-me o pescoço levemente, rindo-se doentiamente perto de mim.
- Lembras-te das cartas anónimas que recebias?- sussurrou ao meu ouvido- Diz lá que eu não tenho imaginação bastante impressionante! Todo este tempo andei há procura de alguém como tu. A Melodie era apenas um disfarce para me aproximar de ti porque é um alvo bastante fácil. Agora que está tudo acabado, falta muito pouco para te ter só para mim.
Soltei um riso provocador.
- Só podes estar drogado! O que andaste a tomar antes de vir para aqui?- perguntei, afastando a sua mão do meu pescoço e cuspindo-lhe a cara- Desaparece, aberração!
O olhar de Stark escureceu e, de repente, esbofeteou-me com tanta força que me fez cair. A minha cabeça latejava e mal conseguia abrir os olhos com a dor.
- Tu não sabes com quem te meteste, estás a ouvir?- declarou, limpando a cara com a manga do casaco e pontapeando as minhas costas e a zona lombar- Tu és minha, Abby! Estás encurralada, perdida e sozinha. Ninguém vai ajudar uma galdéria como tu.
Pontapeou-me até se cansar, deixando-me de rastos, quase sem fôlego no chão e batendo a porta com força ao sair. Humilhada e dorida, não me dei ao trabalho de sair do chão durante o resto da noite, deixando-me chorar um erro grave que tinha sido planeado por quem achava ser o mais santo de todos.


6 da manhã. Como é possível não conseguir dormir mais num sábado? 
Tentei levantar-me do chão mas, esquecendo-me da pancada que tinha levado, voltei-me a deitar para me recompor das dores. Quando finalmente me pus de pé, fui até à casa de banho ver as mazelas que aquele animal me tinha deixado.
A cara ainda estava vermelha e se, porventura, tocasse nela, a minha cabeça começava a doer como se Stark estivesse a bater-me outra vez. As costas e a zona lombar estavam negras da força que ele tanto exerceu. O ego, esse, estava rendido ao destino previsível que se seguiria. Condenada.
Devagar, fui para a cozinha procurar algo para as dores e fazer chá de camomila. De seguida, dirigi-me para o parapeito da janela que dava acesso às escadas de emergência e pus-me a observar o prédio onde Rick mora. Por favor, não desistas de mim, pensei. Pensei também em como fui capaz de destruir o mundo de Melodie e como estaria prestes a derrubar o meu.

-Bom dia, Abby!- cantarolava Cassie, enquanto descia das escadas- Estás melhor?
Pousei a mão no lado da cara que estava magoado (e maldita a hora em que pousei tão rápido) para o esconder.
- Ferida, só. E tu?- respondi.
- Estou muito bem. Espero que não se importem, mas o Noah vem cá tomar o pequeno-almoço.
Sorri. Ao menos tenho a certeza de que estes, quando se juntam num sítio, é muito difícil tirá-los de lá.
- Fixe. O médico disse que não podia estar muito tempo sozinha, vá se lá saber porquê.- comentei ironicamente.
Cassie riu-se e voltou para cima arranjar-se. Eu fui sentar-me no sofá para ver TV (nada melhor do que o "Family Guy" para curar feridas) e tentei prestar atenção às parvoíces do Peter, mas era impossível. Precisava de falar, de contar a alguém sobre o que o Stark me andava a fazer.
A campainha. Paralizei. Podia ser Stark e encará-lo seria impossível no estado em que estava.
- Abby, podes abrir a porta? Ainda me estou a vestir!- gritou Cassie do cimo das escadas.
Respirei fundo e encaminhei-me para porta.
-Bom dia, Abby! Estavas a dormir no sofá?- cumprimentou o sorridente Noah, felizmente- É que tens a cara vermelha do lado esquerdo.
- Olá, entra. Sim..estive a..dormir.- respondi ao sorriso, desiludida por me ter esquecido da cara.
- A Cassie avisou-vos que vinha cá tomar o pequeno-almoço?- perguntou, pousando os copos de café na mesa da sala.
- Óbvio, não fala de outra coisa desde que acordou.- respondi calmamente- Nota-se muito que estive a..dormir no sofá?
Noah riu-se.
- Bastante, mas já é hábito teu.- e olhando para as escadas- Cá está a minha princesa! Bom dia, Cassie!
Acabada de descer as escadas, Cassie sorri e corre para os seus braços. Tão romanticamente nojento.
- Fico feliz por alguém estar bem disposto às 7h da manhã de Sábado! Vou voltar para o sofá.- comentei.

A campainha tocou outra vez e eu congelei mais uma vez. Já tinha mudado de sítio, voltado para o parapeito da janela e optei por não atender a porta. Tinha um mau pressentimento.
- Que se passa, Abby? Hoje não ouves a porta?- resmungava Cassie, saída da cozinha para abrir a porta.
Assim que a abriu soltou um suspiro.
- Ah Stark! Que fazes aqui?
- Bom dia, Cassie. Preciso de falar com a tua prima. Posso entrar?- perguntou ele educadamente.
Cassie soltou outro suspiro.
- Sabes bem que ela não te quer ver. Meu, tens de seguir em frente.
- Cassie, por favor, eu amo-a de verdade. Se ela ainda está a dormir, importas-te que espere até que ela acorde?- insistiu Stark.
- Como queiras, Stark.- respondeu, Cassie- Mas estás a perder o teu tempo.
Cassie fecha a porta, depois de ele entrar, e segue para a cozinha onde Noah a esperava e deixando-me sozinha com Stak na sala. Permaneci na janela, evitando qualquer contacto visual com aquele animal.
- Então que lhe disseste? Adormeceste no chão ou bateste com a cabeça na porta?- provocou ele, rindo-se friamente- Não, espera... Caíste da cama!
Eu ignorava qualquer tipo de boca que ele lançava. Porém, Stark aproximava-se cada vez mais até que o senti atrás de mim, massajando-me as costas.
- Abby, querida, porquê fingir que não sentes o mesmo?- insistiu, enquanto passava as suas mãos das minhas costas para o meu cabelo- Aliás, se não te sentisses assim, nunca teria havido uma segunda vez, certo?
Continuei sem abrir a boca e permaneci gélida, concentrando o meu olhar no apartamento de Rick e reparando que o meu coração batia a mil. No entanto, Stark não desistia e deixou de me acariciar o cabelo para mo puxar.
- Sabes bem que sou capaz de te desfazer em pedaços, Abby! Não me conheces, estás a ouvir?- disse, beijando a minha face- Tens notícias do Rick? Ouvi dizer que tinha voltado para casa dos pais.
E não obtendo qualquer resposta da minha parte:
- Bem me parecia que estavas às escuras nesse assunto. Se te portares bem, talvez o consigas ver mesmo antes de eu lhe enfiar um saco de plástico na cabeça. Aposto que sua cara de desespero é bastante engraçada. Pena, gostava dele.
Finalmente, esgotada de lutar comigo mesma, virei-me e olhei-o nos olhos. Não me surpreendi quando vi a sua alma vazia neles refletida.
- Tu, Stark, és um erro! Tudo o que aconteceu não passou disso.
Stark enervou-se e agarrou-me no queixo.
- Não me tentes, miuda! Tu és minha!- disse, afastando-se e ocupando o sofá.

Momentos depois, apareciam Cassie e Noah, felizes e contentes, e sentaram-se no sofá ao pé de Stark, que continuava a olhar na minha direção
- Estava a apreciar o tempo. Nunca vi tanta chuva na minha vida. Londres, não é verdade?- comentou ele, ignorando todas as ameaças que me fez.
Cassie encolheu os ombros e Noah que sorri perante tal comentário fútil. Não lhe dirigiram palavra nenhuma.
Ouvi passadas vindas de trás de mim, alguém descia as escadas e, pelo olhar de Stark era a cereja no topo do bolo. Encaminhou-se para ela, mas ela desviou-se e saiu de casa, ignorando-o. Este seguiu-a. 
Mal ele saiu, respirei fundo. Noah e Cassie, chegaram-se para mim:
- Nós ouvimos a vossa conversa...Quer dizer, a dele.- disse Noah- Vou ligar ao Rick.
Dito isto, o meu coração começou a acelerar outra vez e as lágrimas corriam pelos meus olhos como se de um rio se tratasse.
- Temos de o parar.-avisou Cassie- Anda, vem comigo acordar a Monie.


* A







terça-feira, 9 de outubro de 2012

Empty Spaces, what are we living for?

Monie veio de imediato ter connosco, para ver o que se passava. Ao deparar-se com tal situação, parou imediatamente atrás de mim, ouvindo-se um ofegar repentino.
Não conseguia dizer nada, Abby estava a centímetros de perder a sua vida para sempre, e tudo o que eu conseguia fazer era chorar compulsivamente por ódio e tristeza.
Harmonie, pegou sorrateiramente no telemóvel e ligou para o 112, também a chorar, lá tentou chamar ajuda. 
Ajoelhou-se também e abraçou-me, agarrei-a com tanta força que de certeza que ela ia ficar com negras.
- Por favor, protege-a. - disse-me. A minha garganta estava com um nó tão gigante que mal conseguia respirar.
Abigail chorava e balançava o corpo para a frente, murmurado "eu não sirvo para nada, eu não sirvo para nada".
No meio de tanta emoção ouviu-se lá ao fundo o som de ambulâncias. 
Finalmente.
Em menos de dez minutos, Abigail já estava cercada de bombeiros e enfermeiros, encaminhando-a para a ambulância.
Harmonie continuava abraçada a mim, junto ao banco do telhado, como poderia estar a acontecer aquilo? Como é que chegamos a este ponto?
Um senhor de meia idade, enfermeiro, avistou-nos e veio ter connosco.
- Meninas, estão bem? A vossa amiga não está muito bem e vamos levá-la para o hospital. Vocês estão mal também, talvez o melhor é irem também.
Mais hospitais não, por favor.
- Monie, eu fico.
- Ok... Eu acompanho-o, até porque depois a Abby precisa de ajuda de volta a casa. Eu estou bem, vai para a cama e descansa, assim  que tudo estiver resolvido, nós voltamos.
Levantei-medo sofá e, melancolicamente, segui para as escadas que davam acesso ao apartamento.
O ambiente estava de cortar a respiração, ouvia-se choros miudinhos e suspiros pelos cantos da casa. Via-se uma Cassie e um Noah aterrados com o que tinha acontecido e o Johnny muito preocupado.
Fiz-me de forte e forcei para não me saírem lágrimas enquanto falava:
- Por hoje já acabou a telenovela meninos, por isso recomponham-se e voltem às vossas vidas que eu volto à minha.
Dirigi-me num passo mais apressado até ao meu quarto, e só depois de ouvir o trinco de todas as portas fecharem, é que o mundo desabou.













Acordei com a cara toda molhada, e com a cama repleta de lenços de papel ranhosos.
"Mas para que é que acordei?"
É sempre bom ter disposição para enfrentar um novo dia.
Levantei-me, sonolenta, e abri a porta do quarto. Parei por uns segundos e reparei na bizarra que alguma vez tinha acontecido naquela casa.
Estava tudo silencioso.
Dirigi-me para a cozinha, talvez hoje os meus dotes culinários não estivessem bizarros, como a casa, e conseguisse cozinhar algo decente.
Ao passar pela sala, reparei que o silencio não se devia ao facto de não estar ninguém em casa, por estavam todos enfiados na sala, mudos e paralíticos, pobres coitados.
Harmonie e Johnny, abraçados e acariciando-se um ao outro para compensar a falta de amor que havia nesta casa, Cassie e Noah, discretamente de mão dada a ver Spongebob na TV muda , Abigail no parapeito da janela a olhar no vazio e Stark, que olhou logo para mim.
NÃO!
Corri de imediato para o quarto, mas antes que me conseguisse trancar lá dentro, Stark já estava a empurrar a porta, implorando que eu a abrisse.
- Por favor, vamos conversar! Mel, por favor!
A voz dele, a voz dele criava-me um nó na garganta tão grande que só me apetecia partir tudo o que houvesse de vidro naquela casa, e mandar tudo contra ele.
Levei-o à ignorância, conseguindo trancar a porta e não lhe respondendo.
Talvez Abigail estivesse correcta, porque raio andava eu a portar-me assim? Sempre na galderice, e sem estudo nenhum no clarinete. No que é que me tinha transformado? Eu que era daquele grupo de alunos em que se concentrava nos estudos para obter boas notas. Eu que andava sempre a competir para tirar melhores notas que Monie. Agora nem sequer ia às aulas, nem sequer sabia onde havia deixado o meu clarinete.
- Isto não pode continuar assim.
Destranquei a porta, Stark sorriu, pensando que me havia conquistado de novo, mas percebeu logo que não quando o olhei nos olhos.
- Entra e senta-te, enquanto eu vou chamar a Abigail e vamos conversar os três.
Stark fez de cão mandando e fui logo buscá-la. Ela não foi capaz de olhar para mim, e Stark pouco também.
- Já que agora têm tanta vergonha de falar agora e de exprimirem os vossos sentimentos, falo eu. Pelos vistos, a única que têm o juízo assente é a Harmonie, que está a conseguir prosseguir um sonho que era partilhado por nós as três, Abigail. E acredito que ela irá ser uma música profissional talentosa, com o empenho e dedicação que ela faz por ter. E ao mesmo tempo, ela consegue coordenar toda esta casa, e ainda consegue tomar conta de nós. Eu sei que estes últimos tempos tenho andado muito perdida, mas talvez porque uma das minhas melhores amigas não me conseguia apoiar porque estava também desamparada. Pois, porque tu também não andas bem desde o início do ano letivo, quer dizer, tu já não andas bem desde que te tornaste uma adolescente típica do século vinte e um, mimada e com a mania que és rebelde. Ontem disseste-me que eu também estava assim, se calhar fiz mal em seguir os teus exemplos, Abigail. Mas agora estou sobre aviso, para a próxima não vou voltar a repetir.
Abigail estava estática, e a única coisa que lhe movia na face eram as lágrimas a escorrerem-lhe pelos olhos.
- Agora tu, Stark. - este estremeceu, sabendo que iria ser ainda mais fria com ele. - Eu sei que me portei muito mal contigo, nunca te devia ter traído com o Adam. Mas acho que a coisa mais imbecil que se pode fazer é pagar na mesma moeda! E para que saibas, se hoje eu não tivesse caído das escadas a baixo, traria no ventre um filho que era obra minha e tua, pois foi contigo que perdi a minha virgindade e era contigo que tencionava ter um grande futuro e feliz. Mas como namorado, a tua obrigação desde o início da minha turbulência  era apoiares-me e abrires-me os olhos, para que eu pudesse seguir em frente como uma pessoa civilizada! Pois, porque com isto tudo nos parecemos uma cambada de macacos, que a única coisa que nos falta é saber pensar! E acho que o que tu fizeste, foi tudo menos pensar em mim e em nós, porque em ti pensaste, e bastante, para seres tão invejoso como és e traíres-me com a minha melhor amiga! Bem, prefiro não continuar se não estávamos aqui o dia todo. Aqui encerro a conversa e a nossa relação, Stark. Abigail, já sabes que desceste muito na minha consideração, e muito dificilmente vais recuperá-la.
Levantei-me da cadeira onde estava sentada e dirigi-me para a sala.
- Boa tarde a todos, peço imensa desculpa pelo horror que se sucedeu ontem.
Ficaram todos pasmados a olhar para mim, e, com a pouca paciência que tinha, virei costas e fui para o quarto de Monie que tinha tudo aquilo que eu precisava...por agora.
Sentei-me na secretária e peguei num caderno.

           

            "Planos: Mudar de casa.
                             Ir à escola.
                             Ser feliz.      "             






Depois, calmamente, levantei-me e fui buscar a mala de viagem que estava por cima do guarda-roupa.
Quanto mais cedo, melhor.




                                                                                                                                                                *M